Evolução da tecnologia e integração dos setores são capazes de mudar a realidade da assistência no País

Adriana Mallet, palestrante do Global Summit APM 2023, destaca que é preciso unir esforços para conquistar a equidade e o acesso à Saúde

“As políticas públicas são a única forma de garantir equidade em um País que tem mais de 80% da população dependendo exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS).”

A afirmação é da médica Adriana Mallet, chief medical officer da SAS Brasil e palestrante do Global Summit APM 2023. O evento será promovido pela Associação Paulista de Medicina (APM), de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, cujo tema central será “Saúde Digital Para Todos”.

A especialista aponta que o sistema privado de Saúde tem um papel relevante tanto no desenvolvimento e na testagem de soluções que podem ser incorporadas pelo SUS, quanto pelo fato de que há grandes oportunidades de negócio ainda não exploradas nesse mercado, que carece de acesso.

O maior desafio, para ela, é integrar esforços e evitar que a falta de mecanismos de cooperação atrase esse desenvolvimento e deixe o Brasil ainda mais para trás nesse movimento.

Evolução

Há uma evolução acelerada na adoção da Saúde Digital mundialmente, com o aumento de atendimentos utilizando a modalidade e ferramentas como meio para potencializar a resolutividade.

No Brasil, a visão por parte de gestores públicos e privados está se ampliando, pois antes se resumia a poucas lideranças que falavam sobre o potencial da Saúde Digital, e isso tem levado a uma maior adoção dessa modalidade.

“Sem dúvida, o maior desafio é organizar esse processo de implementação em bases sólidas e ter uma estratégica unificada, com indicadores confiáveis e padronizados”, garante a executiva, que faz parte da Comissão Científica do Global Summit 2023.

Após a pandemia de Covid-19, os mercados da Saúde Digital e da Telemedicina estão em processo de amadurecimento e refinamento do plano estratégico, além da ascensão de novos players.

“Na minha visão, é um movimento natural de grandes transformações como as que já passamos”, afirma.

Acesso e assistência

As novas tecnologias, para a especialista, são imprescindíveis, no Brasil e em muitos outros países, para garantir o acesso e a melhoria da assistência à Saúde da população, com equidade. Desafio este, muitas vezes, mais ligado a distâncias e distribuição da população e de profissionais do que apenas de renda.

“A tecnologia é a única forma de permitir que uma grande quantidade de profissionais esteja disponível em territórios mais distantes e com menor densidade populacional. Acredito muito na combinação Saúde Digital e móvel para mudar essa realidade. Nem tudo vamos resolver remotamente, nem é em todos os casos que faz sentido um paciente viajar para ter a assistência que necessita”, pondera.

Na 5ª edição do Global Summit APM, Adriana participará do Painel Nacional “Equidade na Saúde Digital”, em que pretende mostrar e debater que a visão de acesso à Saúde é um desafio grande demais para que um único player, setor ou ator busque resolver sozinho.

“Vamos falar sobre o papel dos setores público e privado, a evolução da tecnologia e a integração disso tudo com articuladores capazes de mudar a realidade”, antecipa, destacando que o evento inspira profissionais do mercado e ensina os que estão em formação.

“Eu aprendi muito com as edições passadas e pude aplicar esse aprendizado em projetos que hoje são reconhecidos no mundo. É um prazer colaborar na modelagem do GS APM 2023 ao lado de grandes lideranças que já ocuparam essas cadeiras no passado.”

Adriana conclui dizendo que “a criação de espaço para debate de diferentes setores e de troca de conhecimentos adquiridos é a maior relevância do evento”.

Michele Mello, palestrante no GS APM 2023, acredita que a parceria entre os setores público e privado pode trazer mais sustentabilidade à Saúde

Impulsionada pelos avanços tecnológicos e pela crescente demanda por soluções mais eficientes, a Saúde Digital tem experimentado uma evolução significativa e promissora em todo o mundo, com demandas que envolvem uma ampla gama de inovações que buscam melhorar o atendimento ao paciente, a gestão de dados médicos, o diagnóstico e o tratamento, bem como a comunicação entre profissionais de Saúde e pacientes.

Michele Mello, parceira de Ecossistema de Saúde na Roche Farma Brasil, palestrante da 5ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, comenta que, no contexto brasileiro, os avanços foram grandes na digitalização do setor, com destaque para a publicação da Estratégia de Saúde Digital 2020-2028 – cuja execução foi alavancada pelas necessidades relacionadas à pandemia de Covid-19, e a criação da Secretaria de Informação e Saúde Digital, do Ministério da Saúde. Porém, as dimensões continentais do País, as iniquidades entre as regiões e outras questões complexas comprometem o aproveitamento máximo dessa estratégia.

“Pensando-se na integração de dados em Saúde, ainda há um longo caminho a seguir, pois existem sistemas espalhados por todos os estados e em muitos municípios do Brasil, o que dificulta este processo”, explica, apontando a infraestrutura digital e o acesso à tecnologia, especialmente em áreas mais remotas, como outros desafios a serem superados.

“Também é fundamental garantir que todos os pacientes, independentemente de sua formação digital, possam acessar e compreender as ferramentas de Saúde Digital”, destaca a especialista.

Jornada do paciente

No Global Summit APM 2023, que a Associação Paulista de Medicina (APM) realizará de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, Michele vai participar do Painel Nacional “A Jornada Digital do Paciente” – em que vai abordar a interoperabilidade por linha de cuidado, com base em um case que está em desenvolvimento em uma cidade no sul de Minas Gerais, com a participação da Roche, em conjunto com a Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais (Federassantas) e a startup Techtools health.

A proposta é digitalizar a jornada de pacientes do município de Pouso Alegre (MG) com câncer de mama, por meio de um aplicativo que permite aos gestores de Saúde buscar ativamente mulheres que precisam ser reinseridas no ciclo de prevenção, diagnóstico e tratamento.

O aplicativo também é utilizado por gestores do sistema de Saúde, médicos, enfermeiros e demais profissionais do setor, para digitalizar toda a jornada dessas mulheres, incluindo informações que viabilizem a busca ativa por essas pacientes, para evitar atrasos e faltas nos atendimentos.

“Além da prática em si, acho importante observar esse projeto sob o prisma do aprendizado. Para conseguir colocar a iniciativa em operação, percorremos uma longa – e desafiadora – jornada para entender como viabilizar a interoperabilidade de dados no Brasil. Apenas em Pouso Alegre, detectamos mais de dez sistemas e, por meio dessa iniciativa, estamos integrando três deles”, revela a especialista. Ela ainda afirma que esse é o futuro que deseja ao setor.

“Acredito que a indústria e a iniciativa privada têm papel fundamental para acelerar esse processo, por meio de projetos como o Saúde da Mulher, que ajudam a gerar evidências dos caminhos que podem trazer mais sustentabilidade ao nosso sistema de Saúde.”

Integração de dados

Para superar os desafios atuais e permitir que a interoperabilidade de dados seja possível no Brasil, Michele  aponta que várias medidas podem ser adotadas. A mais óbvia é a definição de padrões de comunicação e de integração, os quais sejam amplamente aceitos pelo ecossistema da Saúde, permitindo que os sistemas falem a mesma língua e troquem informações de maneira mais eficaz.

Também é importante o estabelecimento de políticas e regulamentações claras e consistentes, que abordem questões de privacidade, segurança e troca de dados entre diferentes entidades.

Para que isso aconteça, a especialista acredita que governos e organizações de Saúde precisam disponibilizar recursos financeiros para investir em infraestrutura de tecnologia da informação, treinamento e atualização de sistemas, reconhecendo os benefícios a longo prazo da interoperabilidade.

“Entendo que parcerias público-privadas podem contribuir bastante para que esse processo seja mais célere e eficaz, especialmente ao promover a colaboração entre fornecedores de sistemas de Saúde, provedores de cuidados e autoridades regulatórias, para garantir que todos os stakeholders estejam alinhados em relação aos objetivos e processos de interoperabilidade”, sugere Michele, alegando que o uso de tecnologias, como blockchain e inteligência artificial, pode ajudar a garantir a segurança e a integridade dos dados trocados, além de facilitar a interpretação das informações por meio de análises avançadas.

A especialista finaliza dizendo que, por isso, estar no Global Summit APM é tão relevante, por ser um espaço de diálogo para que todos os atores do setor possam evoluir em pautas comuns, fundamentais para o desenvolvimento do ecossistema de Saúde Digital do Brasil.

“Nesta oportunidade, vivenciamos um rico intercâmbio de experiências nacionais e internacionais, alavancando o aprendizado e gerando subsídios que podem ajudar a acelerar esse processo. Além disso, acredito que a colaboração deve ser a regra na área de Saúde e o evento nos ajuda a ampliar essa possibilidade. Entendo que precisamos manter e potencializar os aprendizados e as conquistas dos setores público e privado e acreditar no valor compartilhado entre empresas e Estado”, conclui Michele.

Inovação vem melhorando a qualidade dos serviços e a evolução do cuidado em Dermatologia e Oftalmologia

A Telemedicina e a Saúde Digital propõem ampliar a cobertura assistencial da população. Quando se trata das especialidades médicas, essas modalidades e as novas tecnologias são fundamentais. Para se ter ideia, uma das principais causas de procura por atendimento médico na atenção primária está relacionada às doenças dermatológicas. Desses atendimentos, 60% são diagnosticados por médicos não especializados.

Entretanto, essa realidade vem buscando outro caminho com as novas soluções tecnológicas capazes de auxiliar nos diagnósticos precoces e melhorar a resolutividade dos tratamentos e prognósticos.

A Dermatologia é uma das principais áreas médicas beneficiadas pelas inovações em Saúde, as quais são capazes de modificar a evolução das doenças da pele dos pacientes. A prática da teledermatologia tem proporcionado a redução do tempo de espera pelas consultas, promovendo a coordenação do cuidado em Saúde com protocolos de pesquisa multicêntricos.

“Por ser uma área visual, em que é necessário ter imagens e ver o paciente, o avançar dos processos tecnológicos e da internet tem tornado mais viável e melhorado a identificação de lesões principalmente cancerígenas. Inclusive, a inteligência artificial (IA) tem ajudado a identificar com mais precisão padrões de imagens, o que antes não era possível”, explica Moysés da Costa Lemos, diretor de Comunicação do Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Aliada à Medicina

A inovação, para o dermatologista, é uma aliada do médico porque ajuda no diagnóstico e na cura do paciente, e não deve ser vista como concorrente, ainda mais quando se pensa nas áreas remotas do País, onde não há a presença de especialistas.

“O médico generalista, usando equipamentos, softwares e hardwares, com o suporte do especialista, vai poder fazer esse diagnóstico, promover o tratamento e o cuidado do paciente, com segurança para evitar falsos positivos”, esclarece, lembrando que as novas soluções só vêm somar ao trabalho desses profissionais.

“Não devemos ter receio de novos aprendizados. Mesmo porque essas evoluções são disruptivas e é necessário se adaptar a elas, ou fica-se para trás. O processo de aprendizagem na Saúde e na Medicina deve ser contínuo”, ressalta.

A melhoria da jornada do paciente é outro aspecto positivo das inovações apontado pelo médico. Desde aplicativos que ajudam a lembrar o indivíduo de beber água ou de fazer atividade física, até plataformas que facilitam o preenchimento de informações e aumentam o tempo disponível do médico, tecnologias que permitem tanto diagnósticos mais precisos quanto cirurgias menos invasivas são soluções que melhoram a experiência no atendimento médico, revolucionando como a Saúde vem sendo desenvolvida.

“O nosso futuro será cada vez mais tecnológico. Vamos ter uma imersão maior, tanto em aprendizado quanto em contato com os pacientes em teleatendimento. Desta forma, o futuro já está entre nós e nos cabe continuar estudando, bem como aprendendo a nos comunicarmos melhor e a utilizar todo o arsenal tecnológico a favor do paciente”, constata Lemos.

Novas oportunidades

A opinião é reiterada pelo diretor de Inovação do Colégio Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Pedro Carricondo. Na visão dele, a evolução da tecnologia vem abrindo novas oportunidades para o cuidado dos pacientes, por meio do acesso a mais dados, relacionados tanto às doenças como ao resultado dos tratamentos e às novas formas de diagnóstico.

“Isso acrescenta muito à nossa capacidade de cuidar melhor dos pacientes e é algo que vem revolucionando a Saúde no mundo. O Brasil tem acompanhado, felizmente, essa transformação com a Saúde Digital, a qual otimiza, por exemplo, as agendas nos hospitais, e facilita o contato do paciente com a assistência médica. É, de fato, a ampliação do cuidado aos pacientes”, afirma.

Na Oftalmologia, os avanços com aparelhos de diagnóstico muito mais precisos e capazes de processar muito mais informações têm proporcionado a realização de exames menos invasivos, diagnósticos mais precisos e a visão de qual tratamento é melhor para cada paciente. Isso, de acordo com o oftalmologista, possibilita um cuidado muito mais individualizado para cada pessoa, permite a troca de informações com outros colegas e a oferta de uma melhor Medicina aos pacientes.

“Parte dessa melhora que vemos no exercício da profissão passa também por se ter acesso facilitado à informação, com cursos on-line e capacitação o tempo todo e em qualquer lugar do mundo. Essa herança da pandemia de Covid-19, mantida após a crise sanitária, é benéfica a todos: profissionais, pacientes, sistema de Saúde e sociedade”, destaca.

A favor do paciente

Carricondo salienta que iniciativas como o Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, cuja 5ª edição a Associação Paulista de Medicina (APM) realizará de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, permitem que o médico consiga entender as tecnologias disponíveis, interagir com os atores da inovação e, com isso, participar de todo o processo e entender como a tecnologia pode ser usada a favor do paciente.

“Sem dúvida nenhuma, é a melhor formar de evoluir na qualidade do atendimento e no desempenho das atividades médicas”, garante o oftalmologista.

Ansioso para a 5ª edição do evento, Lemos finaliza dizendo que “o Global Summit APM é a oportunidade de se informar sobre as principais soluções disponíveis no mercado e para ampliar o conhecimento acerca das tecnologias que estão mudando a Medicina”.

Solução tecnológica TytoCare possibilita atendimento a indígenas residentes em áreas remotas da Floresta Amazônica

A distância, a geografia remota e a falta de meios de transporte adequados, sempre foram um grande desafio para que comunidades indígenas espalhadas pelo Xingu recebessem cuidados médicos especializados. Porém, a introdução de uma tecnologia de ponta voltada à Telessaúde, os desafios anteriormente enfrentados estão sendo superados.

Em recente expedição que serviu para validar a aplicabilidade da tecnologia TytoCare, os profissionais de saúde que atendem a comunidades indígenas no Xingu tiveram a oportunidade de testar a realização dos exames físicos remotamente em tempo real e atestar sua eficiência. “O TytoCare nos permitiu armazenar os dados alterados do exame físico, para compará-los na próxima expedição”, comentou Anna Clara Rabha, diretora médica da Tuinda Care, distribuidora oficial do TytoCare no Brasil.

O TytoCare emerge como uma solução médica abrangente, que empondera os povos originários e os profissionais de saúde que já prestam serviço localmente, permitindo realizar exames médicos básicos com o auxílio de um profissional de saúde remotamente. Dotado de uma câmera de alta resolução, um estetoscópio, um termômetro e sensores diversos, o dispositivo está interligado a um aplicativo intuitivo. Assim, a busca por atendimento médico, até então uma tarefa árdua, se torna acessível e fácil.

Assim, de uma forma simples e eficaz, um agente de Saúde local, seguindo as instruções do aplicativo, pode realizar exames como auscultação dos pulmões e coração, medição da temperatura e avaliação da cavidade oral e dos ouvidos. As informações coletadas são transmitidas em tempo real para um profissional de saúde remoto, que orienta a avaliação e o tratamento. O profissional de Saúde local se sente seguro em prestar atendimento com a assistência remota.

Anna Clara Rabha acredita que por meio da tecnologia a equidade à Saúde para os povos originários é possível. “Com o TytoCare, a comunidade indígena no Xingu está testemunhando uma revolução nos cuidados médicos. Essa inovação não apenas supera barreiras geográficas, mas também estabelece um caminho para um futuro mais saudável”, declarou.

Os benefícios do TytoCare se estendem além do diagnóstico e tratamento eficazes. Os mesmos médicos podem prescrever medicamentos apropriados após a avaliação por telemedicina e monitorar o progresso dos pacientes à distância, promovendo uma abordagem de saúde mais abrangente, com acompanhamento constante e facilitado, o que era inviável até então.

Além disso, o TytoCare tem um papel crucial no desenvolvimento dos profissionais de Saúde locais. Através do treinamento no uso do dispositivo, esses profissionais se sentem mais seguros para coordenar o cuidado do paciente diretamente na comunidade, fortalecendo a Saúde da população indígena do Xingu.

Durante a ação no Xingu, foram realizados atendimentos em diferentes especialidades como clínica médica, ginecologia, dermatologia e pediatria. Aliás, o cuidado a crianças da comunidade representa 38% dos 712 atendimentos realizados. Além disso, foram feitos exames laboratoriais e de imagem.

Foto: Divulgação/Tuinda Care

O novo texto vai permitir que o médico divulgue seu trabalho nas redes sociais e faça publicidade dos equipamentos em seu local de trabalho

Após um processo que durou mais de três anos, de fazer uma consulta pública que recebeu mais de 2.600 sugestões, de realizar quatro webinários e de ouvir as sociedades médicas, o plenário do Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou suas regras para a publicidade médica. O novo texto vai permitir que o médico divulgue seu trabalho nas redes sociais, faça publicidade dos equipamentos disponibilizados no seu local de trabalho e, em caráter educativo, use imagens de seus pacientes, ou de banco de fotos.

“Por muitos anos, interpretamos de forma restritiva os decretos-lei 20.931/32 e 4.113/42, que regulam o exercício da medicina e nossa propaganda/publicidade. Durante décadas, dividimos a prática da medicina em duas, a do consultório e pequenos serviços autônomos e a hospitalar. Depois da releitura desses dispositivos legais, vimos que deixamos de tratar de forma isonômica as duas formas de prática da medicina. A partir dessa revisão, passamos a assegurar que o médico possa mostrar à população toda a amplitude de seus serviços, respeitando as regras de mercado, mas preservando a medicina como atividade meio. É uma resolução que dá parâmetros para que a medicina seja apresentada em suas virtudes, ao mesmo tempo em que estabelece os limites para o que deve ser proibido”, explica o relator da Resolução CFM nº 2.336/23, conselheiro federal Emmanuel Fortes, que já tinha sido o relator do texto que até hoje regulamentava a publicidade médica (Resolução CFM nº 1.974/2011).

Além de permitir ao médico mostrar o seu trabalho, a nova resolução também autoriza a divulgação dos preços das consultas, a realização de campanhas promocionais, o uso das imagens dos pacientes, investimentos em negócios não relacionados à área de prescrição do médico, além de outras permissões.

Imagens – Se o regramento anterior proibia expressamente o uso de imagens do paciente, o novo texto esclarece como essas imagens podem ser usadas. Pela Resolução CFM nº 2.336/23, a imagem deve ter caráter educativo e obedecer os seguintes critérios: o material deve estar relacionado à especialidade registrada do médico e a foto deve vir acompanhada de texto educativo, contendo as indicações terapêuticas e fatores que possam influenciar negativamente o resultado.

A imagem também não pode ser manipulada ou melhorada e o paciente não pode ser identificado. Demonstrações de antes e depois devem ser apresentadas em conjunto com imagens contendo indicações, evoluções satisfatórias, insatisfatórias e possíveis complicações decorrentes da intervenção. Quando for possível, deve ser mostrada a perspectiva de tratamento para diferentes biotipos e faixas etárias, bem como a evolução imediata, mediata e tardia.

É comum que o paciente publique em suas redes sociais agradecimento ao profissional que o atendeu. Agora, o médico poderá repostar, em suas redes, esses elogios e depoimentos. “A única observação é a de que o depoimento seja sóbrio, sem adjetivos que denotem superioridade ou induzam a promessa de resultados”, esclarece Emmanuel Fortes.

Quando o médico usar imagens de banco de imagens, deverá citar a origem e atender as regras de direitos autorais. Quando a fotografia for dos próprios arquivos de médico ou do estabelecimento onde atue, deve obter do paciente a autorização para publicação. A imagem deve garantir o anonimato do paciente, mesmo que este tenha autorizado o uso, e respeitar seu pudor e privacidade.

A Resolução 2.336/23 autoriza a captura de imagens por terceiros apenas para os partos. Não podem ser filmados por terceiros outros procedimentos médicos. “O nascimento é um momento sublime, daí porque permitimos a filmagem e fotos. Em outras situações, não podemos colocar em risco a segurança do paciente”, argumenta Fortes.

A partir de agora, os médicos poderão gravar procedimentos realizados e utilizá-los em peças de divulgação, desde que com a autorização do paciente e respeitando os critérios éticos.

Continuam proibidos o ensino de técnicas médicas a não-médicos, como previsto na Resolução CFM nº 1.718/2004. “Com esta resolução, afirmamos que o médico poderá mostrar para a sociedade suas habilidades, mas alguns princípios não podemos abrir mão. A vedação do ensino do ato médico a outros profissionais é um deles”, pontua Emmanuel Fortes.

Para o relator da Resolução, houve uma mudança significativa no sentido da norma. “Antes, praticamente só tínhamos vedações. Agora, professamos a liberdade de anúncio, mas com responsabilidade e sem sensacionalismo”, define.

Médicos poderão anunciar pós-graduação

A nova resolução do CFM traz um parágrafo específico sobre como o médico deve divulgar suas qualificações. O médico com pós-graduação lato sensu, por exemplo, poderá anunciar em forma de currículo esse aprimoramento pedagógico, seguido da palavra NÃO ESPECIALISTA, em caixa alta. Esta previsão não existia na resolução anterior.

Poderá se anunciar como especialista o médico que tenha feito residência médica cadastrada na Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), ou que tenha sido aprovado em prova aplicada por uma sociedade de especialidade filiada à Associação Médica Brasileira (AMB). Nesses casos, o médico deverá informar o número do Registro de Qualificação de Especialista (RQE) registrado no Conselho Regional de Medicina.

Resolução traz direitos e vedações

Ao contrário da resolução anterior, que era muito restritiva, o texto atual explica melhor os conceitos e, além das vedações, traz permissões que antes eram proibidas aos médicos.

Após fazer uma distinção entre publicidade e propaganda, o texto esclarece quais informações devem estar disponíveis nas peças divulgadas pelos médicos, como nome, número do CRM e do RQE (quando especialista). Além de visíveis nos estabelecimentos onde o médico trabalha, tais informações deverão constar nas redes sociais mantidas por ele.

Caso o profissional tenha um rede de cunho estritamente pessoal, não precisará colocar seus dados médicos, mas caso as utilize para fazer publicidade ou propaganda de sua atividade como médico, deverá colocar as informações que o identificam, como o número do CRM.

O capítulo II da Resolução regulamenta a publicidade e propaganda feita pelo médico nas suas redes sociais. Estabelece, por exemplo, que as selfies, antes proibidas, agora estão permitidas “desde que não tenham características de sensacionalismo ou concorrência desleal”.

O texto diz, ainda, que o material publicado nas redes do médico pode ter o objetivo de formação, manutenção ou ampliação da clientela, além de dar conhecimento de informações à sociedade. O médico poderá repostar publicações de pacientes ou terceiros, que serão consideradas publicações médicas e deverão atender às regras da publicidade médica.

Mas, caso um paciente faça postagens reiteradas com elogios à técnica ou ao resultado de um procedimento, a Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (Codame) deverá investigar. “O médico não poderá ser punido porque um paciente fez um elogio em uma rede social, mas caberá à Codame averiguar quando, por exemplo, um influenciador social começar a fazer elogios sistemáticos a um médico”, esclarece Emmanuel Fortes.

Permissões – O artigo 9º da Resolução traz várias permissões ao médico, que poderá, por exemplo, mostrar em foto ou vídeo detalhes do seu ambiente de trabalho e de sua equipe. O médico poderá comentar “sobre suas emoções no trabalho, alegrias, motivações, prazer em trabalhar, gerando corrente positiva para a boa imagem da medicina”, prescreve o inciso XV do artigo. O médico poderá revelar resultados comprováveis de tratamentos e procedimentos, desde que não identifique o paciente.

O texto enumera, no entanto, que a postagem não deve identificar o paciente ou terceiros, nem deve adotar “tom pejorativo, desrespeitoso, ofensivo, sensacionalista ou incompatível com os compromissos éticos exigidos pela medicina para com suas instituições, outros colegas, especialidades ou técnicas e procedimentos”. Além dessas postagens, o profissional poderá participar de peças publicitárias das instituições e dos planos e seguros de saúde onde trabalhe ou preste serviço.

Aparelhos – O médico também terá o direito de anunciar os aparelhos e recursos tecnológicos da sua clínica, desde que aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e autorizados pelo CFM.

Ainda está no artigo das permissões a autorização para que o médico informe os valores das consultas, meios e forma de pagamento e anuncie abatimentos e descontos em campanhas promocionais. “O que continua proibido são as promoções de vendas casadas, premiações ou outros mecanismos que desvirtuem o objetivo final da medicina como atividade meio”, destaca o relator da Resolução da publicidade médica.

Permanece a proibição da oferta de serviços por meio de consórcios e similares.

Cursos – O médico também poderá organizar cursos e grupos de trabalho educativos para leigos, anunciando seus valores. O que continua proibido é a realização de consultas em grupo, assim como o repasse de informações que levem ao diagnóstico, procedimento ou prognóstico.

Cursos, consultorias e grupos de trabalho para discussão de casos clínicos ou atualizações também poderão ser ofertados, mas devem ser exclusivos para médicos com CRM. Estudantes de medicina estão autorizados a participar desses cursos, deste que sejam identificados e assumam o compromisso de respeito ao sigilo e às normas gerais do grupo.

O profissional poderá anunciar a aplicação de órteses, próteses, fármacos, insumos e afins, desde que descreva as características e propriedades dos produtos utilizados de acordo com a Resolução CFM nº 2.316/22, que disciplina a prescrição de materiais implantáveis, órteses e próteses. O anúncio também pode ser feito quando o médico for o criador ou desenvolvedor da órtese ou insumo, desde que utilize o portfólio aprovado pela Anvisa e autorizados pelo CFM. Em todos os casos, é proibido o anúncio de marcas comerciais e dos fabricantes.

Na relação com a imprensa, médico deve declarar conflito de interesse

“Ao conceder entrevistas em qualquer veículo ou canal de comunicação (…), o médico deve se portar como representante da medicina, devendo abster-se de condutas que visem angariar clientela ou pleitear exclusividade de métodos diagnósticos e terapêuticos”. Esta é a principal recomendação da Resolução de publicidade médica no que diz respeito ao relacionamento do médico com a imprensa.

O texto diz, ainda, que o médico está obrigado a declarar seus conflitos de interesse e, durante a entrevista, não pode divulgar seu endereço físico ou virtual.

No caso de divulgação de informações inverídicas, o médico tem o dever de solicitar a retificação e de informar ao CRM, caso não concorde com o teor das declarações a si atribuídas em textos, peças gráficas ou audiovisuais.

Resolução estabelece algumas proibições

Algumas proibições que estavam previstas na resolução anterior continuam no novo texto. O médico, quando não especialista, continua proibido de divulgar que trata de sistemas orgânicos, órgãos ou doenças específicas.

Também não pode atribuir capacidade privilegiada a aparelhagens e técnicas, nem divulgar equipamento ou medicamento sem registro na Anvisa. Por mais seguro que seja um procedimento, não pode garantir, prometer ou insinuar bons resultados, “pois a medicina é uma arte e uma ciência de meio”, reforça Emmanuel Fortes.

O médico não pode participar de propaganda enganosa de qualquer natureza (que induzam a promessa de resultados, garantia de êxito, ou promovam métodos não reconhecidos pelo CFM, e etc;). O profissional também não pode participar de publicidade de medicamento, insumo médico, equipamento e quaisquer alimentos. Também não pode conferir selo de qualidade a produtos alimentícios, esportivos e de higiene pessoal ou de ambientes, induzindo a garantia de resultados.

Entre as proibições, também está a de que o médico não tenha consultório no interior de estabelecimentos dos ramos farmacêuticos, ópticos, de órteses e próteses ou de insumos de uso médico. Quando o médico for investidor em qualquer uma empresa desses ramos, ele não poderá ter em seu consultório qualquer material publicitário dessas empresas em que é acionista.

Permanece a proibição para que o nome do médico não seja incluído em premiações do tipo “médico do ano”, “destaque da especialidade”, “melhor médico”, ou outras denominações com foco promocionais ou de propaganda patrocinada.

Por fim, a Resolução proíbe o médico de portar-se de forma sensacionalista e autopromocional e de praticar a concorrência desleal ou divulgar conteúdo inverídico.

Boletins médicos devem ser sóbrios

A Resolução CFM nº 2.336/2023 também traz regras para a divulgação de boletins médicos, sendo dever do profissional “adotar tom sóbrio, impessoal e verídico”, sempre preservando o sigilo médico.

A divulgação dos boletins caberá ao médico assistente ou seu substituto, ao diretor técnico da instituição ou ao CRM, quando o médico considerar pertinente. Já a assinatura do boletim, no caso de pacientes internados em estabelecimentos assistenciais, deverá ser do médico assistente e subscrito pelo diretor técnico médico da instituição, ou, em sua falta, por seu substituto.

Médico poderá comprar espaços publicitários

Apesar de a lista de proibições ser extensa, a Resolução também traz direitos para os médicos. É direito do médico, por exemplo, utilizar qualquer meio ou canal de comunicação de terceiros para dar entrevistas, publicar artigos sobre assuntos médicos, com finalidade educativa, de divulgação científica, de promoção da saúde e do bem-estar públicos, desde que respeitadas as regras definidas pelo CFM.

Outro direito assegurado ao médico é a divulgação de sua qualificação técnica e a utilização em trabalhos e eventos científicos, destinados exclusivamente a médicos e estudantes de medicina, de imagens com a aplicação de técnicas de abordagem, desde que obtenha prévia autorização do paciente ou de seu representante legal. As CODAMES passam a ter obrigação de organizar campanhas educativas para a boa aplicação das novas regras e não apenas fiscalizar sua aplicação.