Especialistas debatem o caminho das pedras para a Saúde Digital

Evento de aquecimento para a 5ª edição do Global Summit APM foi realizado na sede do Google Brasil, em São Paulo

O conceito de Saúde Digital está atrelado à transformação cultural de como as tecnologias disruptivas que fornecem dados digitais são acessíveis aos profissionais de Saúde e aos pacientes, possibilitando a tomada de decisão e a democratização do atendimento. 

A explicação é de Priscila Cruzzati, Healthcare and Life Science Industry Specialist – Google Cloud, que participou do warm up realizado pelo Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, em 29 de agosto, na sede do Google Brasil, que debateu a “Saúde Digital no Brasil: o Caminho das Pedras”.

No evento de aquecimento à 5ª edição do evento, que será promovida pela Associação Paulista de Medicina (APM), de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, na capital paulista, Priscila contou que a estratégia do Google é bem definida quando o assunto é Saúde Digital: promover um ambiente acessível, útil e seguro para que as informações do paciente cheguem aos profissionais de Saúde para a tomada segura de decisões.

“O Google tem como missão organizar todas as informações do mundo e torná-las úteis e acessíveis. Quando falamos em Google Cloud, por exemplo, é a transformação na Saúde, a forma que podemos repensá-la, por meio da inovação de dados, Saúde baseada em evidências e como vamos gerar novos indicadores para perguntas que ainda não têm resposta”, destacou a especialista.

Inovação, aliás, é a imagem do Google. Em relação à área da Saúde, segundo Priscila, a companhia tem uma abordagem completamente voltada ao indivíduo que, de forma ampla, analisa os seus diferentes costumes e hábitos, olhando para toda a sua jornada de vida.

“Quando falamos em Saúde, temos que trazer não apenas as soluções, mas também as dores. É preciso ter uma base e olhar para o problema de maneira bem estruturada. Vamos pensar na construção do futuro e, como o Google não é só uma empresa de tecnologia, o conhecimento e a forma que foram feitas as mudança de paradigma em outras indústrias também colaboram muito nos projetos dos nossos clientes”, pontuou Priscila.

Atenção básica

Para Marcelo Fanganiello, CEO da GetConnect, o modelo atual do Sistema Único de Saúde (SUS) tem uma problemática que abrange todos os municípios brasileiros, que diz respeito à atenção básica – que deveria ser melhor resolvida –, relembrando que é nela que a grande maioria dos casos são resolvidos e, quando não há solução, são levados para a regulação.

A utilização de tecnologia e, principalmente, a gestão da Saúde Digital, quando bem estruturadas, tornam o processo muito mais resolutivo e qualitativo. Para isso, segundo Fanganiello, é preciso colocar em prática o conceito de pré-regulação em Saúde. Mas, como isso funciona?

Por meio da adoção de tecnologia, usando uma plataforma de gestão em Saúde integral e a junção de um serviço de Saúde estruturado e preparado para isso, de forma remota, posicionado estrategicamente entre a atenção básica e a especializada. Desta forma, é possível otimizar cerca de 80% das demandas que entram, ou seja, elas são resolvidas dentro desse ecossistema, diminuindo de forma exponencial a ascensão do caso para a regulação.

“É uma mistura de tecnologia, pessoas e processos bem-feitos. Ao colocarmos um processo digital quando temos um problema na atenção básica, isso dá atenção ao paciente e é possível resolver uma série de problemas do SUS”, garante o executivo.

Porém, é preciso saber lidar com os principais desafios e trazer soluções para a digitalização do SUS.

“A primeira coisa é juntar quem é quem, e a outra parte é o repositório único de dados, porque pode haver vários sistemas diferentes em um município. Precisamos empoderar o paciente e fornecer dados para ele. Além disso, são necessárias ferramentas para o profissional de Saúde fazer a Saúde Digital. Esses são os principais pilares”, explicou Fanganiello.

Maturidade digital

Com foco em Inteligência Artificial e as diferentes formas em que é possível inseri-la no sistema, Claudio Giulliano Alves da Costa, CEO da Folks, destacou que a sua empresa tem se dedicado em conseguir concretizar o caminho das pedras e em construir métodos para fazer a transformação em uma jornada que alcance o paciente, o profissional, a instituição e os municípios. Para o especialista, a ideia principal é mostrar como avaliar a maturidade digital de instituições de Saúde, analisar onde se está, para, então, determinar quais serão os próximos passos.

“Não é que a inteligência artificial (IA) vai substituir o profissional de Saúde, mas, certamente, aqueles que a utilizarem irão superar os que não a usam. Nós que trabalhamos na área da Saúde temos que usar a IA de maneira ética e responsável, buscando não gerar novos danos”, destacou Costa, ressaltando que tem usado a IA generativa – sistema capaz de gerar texto, imagens ou outras informações em resposta a solicitações em linguagem comum – para pensar.

“Eu faço e peço ajuda para aperfeiçoar o que fiz. Passando para indicadores, é ideal que se tenha uma ferramenta para avaliação, pois ajuda, no fim, a criar um plano de transformação”, salientou o CEO.

Costa exemplificou que a Folks desenvolveu um método de avaliação chamado “Índice de Maturidade Digital para a Saúde”, no intuito de analisar hospitais e Telemedicina. Com isso, foi possível identificar que a maturação digital dos hospitais brasileiros é de 44%.

“Nós precisamos saber onde estamos, para saber para onde vamos. Tem outros países que avançaram um pouco mais nisso, mas no Brasil também teremos avanços para chegar em um nível mais confortável e ter uma Saúde muito melhor. Saúde Digital é benéfico, existem vários estudos mostrando isso e a gente tem que investir fortemente para poder fazer a transformação”, afirmou o executivo.

Jornada do paciente

Finalizando o evento, Edgar Gil Rizzatti, diretor-executivo médico do Grupo Fleury, salientou a importância da integração da jornada do paciente, tornando-a mais assertiva e pertinente.

“Muitos países vieram ver como a gente faz essa integração para abrir unidades parecidas, isso acabou se disseminando aqui, no Brasil, mas não é um modelo comum ao redor do mundo. Dentro da integração em Medicina Diagnóstica, por exemplo, começamos a trabalhar um conceito de oferecer tudo o que um paciente com uma determinada condição clínica precisa”, explicou.

Para a integração dar certo e ser uma experiência positiva, Rizzatti informou ser necessária que a sua realização seja feita de forma completamente analógica.

“É preciso, para fazer a integração, ter alguns rituais, como reuniões multidisciplinares semanais, discussões de caso em que aprendemos a melhorar a qualidade, ver o quanto de coisas são redundantes ou desnecessárias. Com este aprendizado, vimos que a integração constrói valor para o paciente, para o médico e para o sistema de Saúde”, concluiu Rizzatti.

A moderação do warm up foi do presidente do Global Summit APM, Jefferson Gomes Fernandes, e do copresidente  e diretor de Tecnologia de Informação da APM, Antonio Carlos Endrigo.

DOC24, DTO e NeuralMed destacam a relevância do evento para ampliar o conhecimento e lançar novos produtos

Implementar sistemas, plataformas e ferramentas sob medida na área de Saúde traz muitos benefícios não só para as instituições do setor, mas para colaboradores, médicos e, principalmente, pacientes. A Saúde Digital é hoje uma realidade crescente e, como resultado, traz melhorias ao trabalho dos profissionais de Saúde e os pacientes ficam mais satisfeitos ao serem atendidos com rapidez, conforto e segurança, além de reduzir custos.

Antevendo este cenário, o Global Summit Telemedicine & Digital Health APM surgia há cinco anos, com o propósito de debater Saúde Digital e Telemedicina com os principais players do ecossistema da Saúde e levar conteúdos exclusivos, conhecimento, experiências e visões de um futuro próximo.

Em sua 5ª edição, o Global Summit APM – hoje considerado o mais relevante evento de Saúde Digital e Telemedicina da América Latina – será realizado de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, pela Associação Paulista de Medicina (APM), e terá a presença de especialistas do setor, corporações de Saúde e tecnologia, além de empresas que estão patrocinando a edição 2023, levando suas marcas para um novo horizonte da Saúde mundial, com a oportunidade do reconhecimento dos principais líderes do ecossistema da Saúde Digital.

Foi pensando assim que NeuralMed – startup nativa da área da Saúde, fundada em 2018, que desenvolve soluções que utilizam inteligência artificial (IA) para gerar valor para o ecossistema, analisando dados de múltiplas fontes e sistemas do setor, a fim de criar uma matriz única de dados segura e confiável, gerando insights e informações relevantes para triagem, identificação e navegação de pacientes – confirmou presença no GS APM 2023.

“Consideramos este evento bastante relevante ao setor de Saúde em se tratando de Telemedicina e Saúde Digital. Como atuamos com inovação e tecnologia, estamos diretamente ligados a esses temas e achamos importante estarmos presentes para expor nossas contribuições ao setor”, explica Anthony Eigier, cofundador e CEO da NeuralMed.

Por abranger todos os players do ecossistema da Saúde Digital, o executivo diz entender que o Global Summit APM represente a reunião de toda a transformação digital do setor, principalmente no tocante às inovações.

“Esperamos poder mostrar ao mercado os benefícios das nossas soluções e apresentar um pouco de como a IA pode contribuir e estar diretamente ligada a ganhos para os diversos stakeholders do setor. Vamos ter a oportunidade de revelar resultados mensurados de ganhos significativos tanto para os nossos clientes como para os beneficiados pela utilização das nossas soluções, no caso, os pacientes”, salienta Eigier.

Oportunidades

“O Global Summit APM é um grande evento de Saúde Digital, que nos dá a oportunidade de explorar, divulgar e discutir, juntos aos principais players do setor, a tecnologia voltada para a área da Saúde”, afirma Daniel Prieto, diretor-geral da DOC24 Brasil – criadora de soluções inovadoras que impactam na qualidade de vida das pessoas, melhorando o acesso à Saúde, trabalhando desde a prevenção e potencializando o bem-estar –, que mais uma vez estará no GS APM.

Pietro esclarece que a Telemedicina está revolucionando como os pacientes acessam as consultas médicas e a Telessaúde está ampliando o alcance dos serviços de Saúde para regiões anteriormente carentes de recursos médicos.

“Discutir esses tópicos no Global Summit APM não apenas enriquece o diálogo sobre inovação na Saúde, mas também impulsiona a colaboração e o desenvolvimento de soluções ainda mais impactantes”, destaca o diretor-geral da DOC24.

Mostrar as tendências e ser reconhecido no ecossistema da Saúde Digital brasileira é mais um objetivo da empresa ao participar do GS APM 2023.

“Para a DOC24, esta é uma importante parceria que se estendeu pelos últimos anos, sendo um relevante centro para networking e expertise em Saúde. A troca de informações e conhecimento durante o evento nos auxilia na geração de grandes parcerias de negócios, e este é um ponto importante para a nossa empresa”, ressalta Pietro.

Lançamento

A DTO – empresa de health tech que oferece soluções digitais baseadas no Open Health, com a missão de utilizar a Interoperabilidade para beneficiar todos os atores do segmento da Saúde, com o objetivo de ser o principal hub de informações da Saúde dos pacientes – também já garantiu a presença na 5ª edição do Global Summit APM.

Para Antonio Carlos Endrigo, sócio e cofundador da empresa, o evento é o principal do ecossistema da Saúde Digital e proporciona o acesso a tudo de mais moderno e inovador que está acontecendo no Brasil e no mundo.

“São dezenas de palestrantes internacionais e nacionais que trazem todo esse conhecimento e suas experiências sobre o que estão vendo por aí, nas universidades e no mercado de Saúde Digital e de Telemedicina. É neste ambiente que queremos levar os nossos produtos e serviços. Não haveria melhor lugar para divulgarmos nossa tecnologia e apresentar os nossos serviços”, garante Endrigo.

Ele revela que a DTO pretende lançar no GS APM 2023 uma nova tecnologia de informação ao paciente, que vai possibilitá-lo acompanhar seu histórico de dados clínicos a partir do uso de inteligência artificial e entender as hipóteses diagnósticas e possíveis tratamentos, baseados em informações científicas.

“Para nós, será um grande momento no Global Summit APM, que sempre nos premia com muita tecnologia em Saúde Digital. Também é a melhor maneira de acompanhar tudo o que está acontecendo no ecossistema da Saúde Digital. Não poderíamos ficar de fora”, conclui Endrigo.

Assista a entrevista com a advogada Renata Rothbarth nas principais plataformas: Spotify, YouTube e Deezer

O quarto episódio do Global Summit Cast está no ar e traz entrevista com a advogada Renata Rothbarth, com larga experiência em life science, Saúde e Saúde Digital – que auxilia investidores, empresas líderes e emergentes e startups em uma ampla gama de aspectos contratuais e regulatórios –, sócia do escritório Machado Meyer Advogados.

Ela fala ao presidente do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, Jefferson Gomes Fernandes, sobre a legislação em Saúde Digital, destacando que o setor é muito regulado e está em processo de atualização e transformação para uma Saúde mais tecnológica.

Na entrevista, Renata também comenta a diferença entre biotechs, healthtechs e medtechs e revela que “todas têm importância para a Saúde das pessoas, cada uma dentro de sua característica”.  

Questionada sobre o investimento no setor, a especialista explica que os investidores estão mais cautelosos após os grandes aportes realizados em 2020 e 2021 em Saúde Digital. Mas, ressalta que ainda há procura para se investir em empresas que estão desenvolvendo soluções para o setor, principalmente as que estão cumprindo as exigências regulatórias.

A advogada ainda fala sobre o crescimento das startups no País; a regulamentação da Telemedicina e da Telessaúde; a necessidade de regulação e segurança jurídica nas prescrições eletrônicas de medicamentos; e muito mais.

O novo episódio está disponível nas principais plataformas: Spotify, YouTube e Deezer, ou pelo site e redes sociais da Associação Paulista de Medicina (APM), realizadora do Global Summit APM.

Global Summit Cast

O Global Summit Cast é o novo canal de comunicação do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, que tem o objetivo de gerar conteúdo qualificado para o ecossistema da Saúde Digital e para toda a sociedade, com entrevistas mensais com especialistas em Telemedicina e Saúde Digital.

A proposta busca aproximar o Global Summit APM, que chega à sua 5ª edição em 2023 – realizada pela APM, de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo –, do seu público.

Para Fabio Mattoso, conferencista do GS APM 2023, as instituições precisam adaptar suas culturas e direcionar os investimentos para que a verdadeira transformação digital ocorra no País

No cenário atual, as tecnologias de informação e comunicação assumem um papel central nas infraestruturas e ferramentas que respaldam a prática médica, a gestão institucional e até mesmo a promoção da Saúde, a educação sanitária, a Saúde pública, a pesquisa biomédica e a formação profissional.

Para Fabio Mattoso, CEO da Tuinda Care, conferencista confirmado na 5ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM – que a Associação Paulista de Medicina (APM) realizará de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo – cada País apresenta uma realidade única sobre a evolução da Saúde Digital, influenciando seus sistemas de Saúde de maneiras diversas e, por vezes, imprevisíveis. Países nos quais se antecipava uma rápida transformação, como os Estados Unidos, ainda enfrentam obstáculos devido à persistência de estruturas organizacionais fragmentadas. Em contraste, destaca-se o exemplo da Estônia, que emergiu como líder em interoperabilidade e transformação digital na Saúde.

“No Brasil, dispomos de um contingente de profissionais altamente qualificados, conferindo-nos uma vantagem competitiva. Entretanto, nossa capacidade de desenvolver soluções ainda depende, em grande medida, de tecnologias globais. Sou otimista quanto ao País, mas reconheço que a ausência de preparo e planejamento adequados poderão retardar nosso progresso”, pondera Mattoso.

A visão de futuro, para o executivo, abrange dimensões demográficas, cuidados humanos, comércio eletrônico na área da Saúde, assistência eletrônica e ecologia social saudável.

“Estou convencido de que os sistemas de informação e a Internet das Coisas (IoT) serão ferramentas fundamentais para viabilizar tais objetivos, tornando-se os alicerces e os canais de acesso a esse futuro almejado”, destaca.

Troca de dados

Após o boom das teleconsultas durante a pandemia de Covid-19, segundo Mattoso, houve uma ligeira retração desse mercado. No entanto, no contexto da Saúde Digital, tornou-se inegável a urgência de novas tecnologias e da troca de dados para o cenário pós-Covid-19. Soluções que antes enfrentavam forte resistência, como a prescrição eletrônica, hoje estão solidamente estabelecidas em diversas regiões do País. O mesmo se aplica às abordagens relacionadas a ensaios clínicos.

Quanto à inteligência artificial (IA), explica o CEO da Tuinda Care, está encontrando seu espaço apropriado, não como um substituto, mas como um complemento.

“Percebo uma evolução constante, porém, as instituições de maneira geral também precisarão adaptar suas culturas e direcionar investimentos para que a verdadeira transformação possa ocorrer no País”, afirma Mattoso.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Saúde Digital abrange a ampla aplicação das tecnologias de informação na área da Saúde, englobando sistemas e ferramentas destinados ao tratamento de pacientes, investigação, formação profissional, vigilância epidemiológica e monitoramento da Saúde pública. O executivo lembra que, atualmente, o acesso a essas tecnologias é facilitado pela proliferação de dispositivos móveis, que auxiliam no diagnóstico e em exames remotos. Entretanto, o verdadeiro desafio reside na gestão dos dados coletados e na utilização que se faz deles.

“A eficácia real só será alcançada por meio de uma gestão integrada, que poderá gerar um impacto significativo no acesso à Saúde pela população. Contudo, é importante considerar que o Brasil enfrenta desafios relacionados à desigual distribuição geodemográfica de recursos médicos”, aponta o executivo, ressaltando que as tecnologias que permitem atendimento remoto, sem dúvida, desempenham um papel fundamental para o contexto brasileiro.

Desafios

Em sua participação no Global Summit APM 2023, Mattoso fará a Conferência Nacional “O Desafio Médico na Interoperabilidade da Saúde Digital”, temática que, para ele, ainda é abordada de maneira superficial.

Por trás desse conceito, segundo o executivo, existem normas, critérios e complexos aspectos regulatórios e legais que precisam ser levados em conta. Além disso, a noção de interoperabilidade não se limita a um único tipo ou enfoque, visto que deve abranger múltiplos domínios dentro do processo clínico, englobando facetas técnicas, sintáticas, semânticas e organizacionais, entre outras.

“A padronização é apresentada como uma abordagem para alcançar tal meta. Porém, a interoperabilidade semântica se demonstra substancialmente mais desafiadora de ser implementada no contexto clínico do que em outros ambientes. Surge, portanto, a proposta de uma mudança estratégica em relação à padronização, com a adoção de um modelo dual que separa a gestão da informação e a administração do conhecimento”, explica Mattoso, que revela que essa discussão não é apenas instigante, mas também provocativa, uma vez que transcende aspectos técnicos e adentra considerações éticas e organizacionais, cujo peso é igualmente significativo.

Estratégia adequada

O CEO da Tuinda Care explica ainda que quando a necessidade da interoperabilidade surgiu, o sistema não estava devidamente preparado para enfrentá-la. Além disso, as organizações de Saúde operam contendo outras entidades em níveis menores, que são englobadas por estruturas maiores, como o sistema de Saúde pública, secretarias de Saúde, hospitais e departamentos, o que dificulta uma padronização.

Cada contexto e nível de complexidade pode requerer uma estratégia de comunicação específica dentro do seu domínio de atuação. Adicionalmente, a representação das informações ainda carece de formalização, já que, historicamente, cada profissional tem registrado as informações conforme sua própria experiência, o que dificulta a partilha efetiva dos dados.

“A codificação é um passo inicial, contudo, por si só não é suficiente. Em face dessa situação, fica claro que uma mudança de estratégia é necessária. Porém, esse movimento não poderá progredir sem uma regulação e legislação adequadas”, defende Mattoso.

Ele conclui dizendo que “debater esta temática, como acontecerá no Global Summit APM 2023, é fundamental para que os obstáculos sejam superados e a interoperabilidade, de fato, contribua para a sustentabilidade do setor da Saúde”.

“O Global Summit APM transcende a simples definição de um evento. Ele assume o papel de uma entidade integradora fundamental no ecossistema da Saúde Digital brasileira. Em minha perspectiva, ele congrega pessoas, empresas e setores da indústria que, deliberadamente, possuem interesses diversos. Como resultado, o evento estimula uma série de diálogos enriquecedores de alto nível, cada um com abordagens únicas. Embora seja inquestionável que o paciente permanece como o epicentro de todas as discussões, o enfoque recai também na abordagem prática de como efetivamente alcançar os objetivos. Este aspecto, a meu ver, tem sido habilmente explorado desde a primeira edição do Global Summit APM”, finaliza.

Webinar promovido pela APM discutiu as perspectivas dos especialistas que optaram pelo uso da inovação em suas atividades profissionais

O webinar “Saúde Digital – A visão de médicos inovadores”, promovido pela Associação Paulista de Medicina (APM), em 23 de agosto, trouxe as perspectivas dos especialistas que optaram por inovar em suas atividades profissionais. Abordando temas relacionados à necessidade de capacitação e formação nesta área, além da prática da teleconsulta e suas implicações e o desenvolvimento futuro, os especialistas também discutiram os aspectos fundamentais da ética e da legislação em Saúde Digital.

O vice-presidente da APM, João Sobreira de Moura Neto, destacou na abertura do evento on-line a importância das atividades realizadas pela instituição.

“A Associação cumpre um de seus papéis fundamentais, que é a atualização científica dos médicos. Temos também como um dos pilares da nossa instituição a Defesa Profissional e a integração social dos médicos, além de uma interlocução com a sociedade de modo geral”, disse Sobreira.

Já o presidente do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, Jefferson Gomes Fernandes, moderador do webinar, evidenciou que a APM é líder entre as instituições médicas na inovação e na Saúde Digital.

“Temos um tema que é muito importante, que é exatamente como os médicos hoje estão se envolvendo com a Saúde Digital, com a Telemedicina e com a Telessaúde – que já fazem parte do nosso dia a dia. Mas, ainda temos muito para evoluir. Este é o momento em que temos a oportunidade de ouvir especialistas”, destacou Fernandes.

Saúde Digital

Eduardo Cordioli, ginecologista e obstetra, com extensa formação em Administração de Saúde e com MBA executivo em Gestão da Inovação e Marketing de Serviços, explicou que o hardware se configura como a primeira parte da Saúde Digital e, mesmo que o exame físico seja a chave do ato médico, é possível realizar determinados procedimentos a distância, especialmente ao efetuar uma boa anamnese.

O treinamento de máquinas, a utilização da telepropedêutica armada e o uso de eletrônicos a favor do médico são pontos cruciais para o aumento da assertividade.

“Utilizando a telepropedêutica e o telemonitoramento, fazemos com que os pacientes sejam monitorados em casa, reduzindo custos e fazendo a desospitalização. Com isso, desonera-se o sistema, há leitos para quem mais precisa e melhora toda a experiência do paciente”, explicou Cordioli.

Apesar de haver muitas tecnologias em desenvolvimento, o médico salientou alguns problemas existentes neste sistema, como o modelo de remuneração; prescrição excessiva de exames; desperdícios; uso inapropriado de serviços médicos; e heavy users – pacientes que demandam muito do sistema de Saúde; entre outros. Para ele, a única forma de resolver essas questões é digitalizando a Medicina e transformando tudo em dados, pois, por meio da utilização da inteligência artificial (IA), será alcançada a melhora na jornada do paciente, fazendo com que ela se torne mais prazerosa e se evitem desperdícios.

“Hoje, a forma de conseguir engajar profissionais bons é usando as ferramentas que desenvolvemos, o software, e aí vem a segunda parte da evolução da Telemedicina e da Saúde Digital. Vamos ser melhores médicos utilizando a IA a nosso favor, que é uma inteligência aumentada, porque, sem dúvidas, vai elevar a nossa capacidade humana de acertar. O melhor médico não é aquele que sabe todas as respostas, mas aquele que extrai a verdade, monta uma história e uma sequência lógica, que usa experiência, que vê o que deu certo e errado e toma a melhor decisão”, pontuou.

Além disso, para Cordioli, a IA também possibilita que em uma conversa entre médico e paciente sejam criadas frases importantes e, assim, seja construído um raciocínio que auxilie o profissional.

“Acredito que o próximo passo, sem dúvida nenhuma, é estarmos acessíveis em qualquer lugar, a qualquer hora, por meio de qualquer canal, para todo mundo. É assim que vai ser o futuro da Saúde Digital, além da teleconsulta”, explicou o médico.

Formação profissional

Muitos profissionais ainda não entendem o conceito de Saúde Digital, ponderou o professor de Telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, Alexandre Taleb. Por isso, é necessário compreender o começo deste conceito para, então, ter a percepção de onde se está e, a partir daí, planejar o futuro.

Ele relembrou que a primeira experiência de educação em Saúde Digital se iniciou com György Miklos Böhm, na Universidade de São Paulo (USP), ao fundar a disciplina de Informática Médica na instituição, em 1989. Em seguida, Chao Lung Wen foi responsável por fundar a disciplina de Telemedicina no Laboratório de Investigação Médica, também na USP, em 1998.

“Hoje, há a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil, publicada em 2020 pelo Ministério da Saúde, prevendo ações entre 2020 e 2028. Dentre as metodologias, temos a formação e capacitação de recursos humanos, prevendo a qualificação em Informática em Saúde e a valorização do capital humano na Saúde Digital”, destacou Taleb.

O professor ainda enalteceu que diversas iniciativas voltadas à Saúde Digital estão sendo feitas em algumas faculdades de Medicina, e pontuou a necessidade de fornecer formação não apenas aos acadêmicos, mas também aos mais de 540 mil médicos brasileiros que não receberam uma instrução adequada sobre essa temática.

“Há iniciativas de universidades na formação e na criação de um currículo mínimo, apoiados na Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde, que está à disposição de quem tiver interesse, para aumentarmos a quantidade de instituições do Brasil que formam profissionais nas práticas dessa modalidade de atendimento. O fato é que ainda precisamos de literatura, colocar livros à disposição dos acadêmicos e dos médicos já formados”, ressaltou Taleb.

Legalidade

Trazendo os aspectos do Direito na Telessaúde, Maria Ângela de Souza, médica, advogada e doutora em Ciência da Saúde, recordou que a Saúde Digital se tornou um tema tão importante que, atualmente, engloba a Constituição Federal, o Código Civil, o Código da Defesa do Consumidor, o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

A especialista foi enfática ao dizer que é fundamental que médicos e acadêmicos tenham cuidado redobrado na utilização de redes sociais para não causar a exposição de pacientes, que podem entrar com ações contra esses profissionais.

“Uma resolução de 2015 determina que médicos não podem publicar selfies em situações de trabalho e, muitas vezes, o que vemos nas redes sociais são fotos no centro cirúrgico, em atendimento. É necessário preservar a imagem”, orientou Maria Ângela.

Sobre a LGPD, que entrou em vigor em 2020, a palestrante destacou que a IA e o big data já são uma realidade em todos os lugares. Por isso, atualmente, os dados são manuseados de modo a proteger a identidade das pessoas e suas informações.

“Existe essa preocupação com a segurança da informação. Os três pilares – confidencialidade, integridade e disponibilidade – têm de estar sempre disponíveis e protegidos nas plataformas, que devem ser certificadas, garantindo que sejam legais, que haja autenticidade e confidencialidade”, salientou a especialista.

Sobre a Telemedicina, Maria Ângela fez questão de destacar que é indicado haver um termo de autorização e concordância do paciente, para que ele seja informado e demonstre se entendeu todas as informações e explicações.

“Na arte da Medicina, qualquer meio de atendimento escolhido pelo médico deve sempre ser pautado naquele que trará o melhor benefício para o paciente, atendendo as suas necessidades e objetivando a cura quando possível. Já o Direito, por sua vez, deve amparar este indivíduo enfermo, para ter todas as suas garantias constitucionais preservadas, principalmente naquela que é o seu bem maior, a sua saúde”, finalizou.