Webinar promovido pela APM discutiu as perspectivas dos especialistas que optaram pelo uso da inovação em suas atividades profissionais
O webinar “Saúde Digital – A visão de médicos inovadores”, promovido pela Associação Paulista de Medicina (APM), em 23 de agosto, trouxe as perspectivas dos especialistas que optaram por inovar em suas atividades profissionais. Abordando temas relacionados à necessidade de capacitação e formação nesta área, além da prática da teleconsulta e suas implicações e o desenvolvimento futuro, os especialistas também discutiram os aspectos fundamentais da ética e da legislação em Saúde Digital.
O vice-presidente da APM, João Sobreira de Moura Neto, destacou na abertura do evento on-line a importância das atividades realizadas pela instituição.
“A Associação cumpre um de seus papéis fundamentais, que é a atualização científica dos médicos. Temos também como um dos pilares da nossa instituição a Defesa Profissional e a integração social dos médicos, além de uma interlocução com a sociedade de modo geral”, disse Sobreira.
Já o presidente do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, Jefferson Gomes Fernandes, moderador do webinar, evidenciou que a APM é líder entre as instituições médicas na inovação e na Saúde Digital.
“Temos um tema que é muito importante, que é exatamente como os médicos hoje estão se envolvendo com a Saúde Digital, com a Telemedicina e com a Telessaúde – que já fazem parte do nosso dia a dia. Mas, ainda temos muito para evoluir. Este é o momento em que temos a oportunidade de ouvir especialistas”, destacou Fernandes.
Saúde Digital
Eduardo Cordioli, ginecologista e obstetra, com extensa formação em Administração de Saúde e com MBA executivo em Gestão da Inovação e Marketing de Serviços, explicou que o hardware se configura como a primeira parte da Saúde Digital e, mesmo que o exame físico seja a chave do ato médico, é possível realizar determinados procedimentos a distância, especialmente ao efetuar uma boa anamnese.
O treinamento de máquinas, a utilização da telepropedêutica armada e o uso de eletrônicos a favor do médico são pontos cruciais para o aumento da assertividade.
“Utilizando a telepropedêutica e o telemonitoramento, fazemos com que os pacientes sejam monitorados em casa, reduzindo custos e fazendo a desospitalização. Com isso, desonera-se o sistema, há leitos para quem mais precisa e melhora toda a experiência do paciente”, explicou Cordioli.
Apesar de haver muitas tecnologias em desenvolvimento, o médico salientou alguns problemas existentes neste sistema, como o modelo de remuneração; prescrição excessiva de exames; desperdícios; uso inapropriado de serviços médicos; e heavy users – pacientes que demandam muito do sistema de Saúde; entre outros. Para ele, a única forma de resolver essas questões é digitalizando a Medicina e transformando tudo em dados, pois, por meio da utilização da inteligência artificial (IA), será alcançada a melhora na jornada do paciente, fazendo com que ela se torne mais prazerosa e se evitem desperdícios.
“Hoje, a forma de conseguir engajar profissionais bons é usando as ferramentas que desenvolvemos, o software, e aí vem a segunda parte da evolução da Telemedicina e da Saúde Digital. Vamos ser melhores médicos utilizando a IA a nosso favor, que é uma inteligência aumentada, porque, sem dúvidas, vai elevar a nossa capacidade humana de acertar. O melhor médico não é aquele que sabe todas as respostas, mas aquele que extrai a verdade, monta uma história e uma sequência lógica, que usa experiência, que vê o que deu certo e errado e toma a melhor decisão”, pontuou.
Além disso, para Cordioli, a IA também possibilita que em uma conversa entre médico e paciente sejam criadas frases importantes e, assim, seja construído um raciocínio que auxilie o profissional.
“Acredito que o próximo passo, sem dúvida nenhuma, é estarmos acessíveis em qualquer lugar, a qualquer hora, por meio de qualquer canal, para todo mundo. É assim que vai ser o futuro da Saúde Digital, além da teleconsulta”, explicou o médico.
Formação profissional
Muitos profissionais ainda não entendem o conceito de Saúde Digital, ponderou o professor de Telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, Alexandre Taleb. Por isso, é necessário compreender o começo deste conceito para, então, ter a percepção de onde se está e, a partir daí, planejar o futuro.
Ele relembrou que a primeira experiência de educação em Saúde Digital se iniciou com György Miklos Böhm, na Universidade de São Paulo (USP), ao fundar a disciplina de Informática Médica na instituição, em 1989. Em seguida, Chao Lung Wen foi responsável por fundar a disciplina de Telemedicina no Laboratório de Investigação Médica, também na USP, em 1998.
“Hoje, há a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil, publicada em 2020 pelo Ministério da Saúde, prevendo ações entre 2020 e 2028. Dentre as metodologias, temos a formação e capacitação de recursos humanos, prevendo a qualificação em Informática em Saúde e a valorização do capital humano na Saúde Digital”, destacou Taleb.
O professor ainda enalteceu que diversas iniciativas voltadas à Saúde Digital estão sendo feitas em algumas faculdades de Medicina, e pontuou a necessidade de fornecer formação não apenas aos acadêmicos, mas também aos mais de 540 mil médicos brasileiros que não receberam uma instrução adequada sobre essa temática.
“Há iniciativas de universidades na formação e na criação de um currículo mínimo, apoiados na Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde, que está à disposição de quem tiver interesse, para aumentarmos a quantidade de instituições do Brasil que formam profissionais nas práticas dessa modalidade de atendimento. O fato é que ainda precisamos de literatura, colocar livros à disposição dos acadêmicos e dos médicos já formados”, ressaltou Taleb.
Legalidade
Trazendo os aspectos do Direito na Telessaúde, Maria Ângela de Souza, médica, advogada e doutora em Ciência da Saúde, recordou que a Saúde Digital se tornou um tema tão importante que, atualmente, engloba a Constituição Federal, o Código Civil, o Código da Defesa do Consumidor, o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A especialista foi enfática ao dizer que é fundamental que médicos e acadêmicos tenham cuidado redobrado na utilização de redes sociais para não causar a exposição de pacientes, que podem entrar com ações contra esses profissionais.
“Uma resolução de 2015 determina que médicos não podem publicar selfies em situações de trabalho e, muitas vezes, o que vemos nas redes sociais são fotos no centro cirúrgico, em atendimento. É necessário preservar a imagem”, orientou Maria Ângela.
Sobre a LGPD, que entrou em vigor em 2020, a palestrante destacou que a IA e o big data já são uma realidade em todos os lugares. Por isso, atualmente, os dados são manuseados de modo a proteger a identidade das pessoas e suas informações.
“Existe essa preocupação com a segurança da informação. Os três pilares – confidencialidade, integridade e disponibilidade – têm de estar sempre disponíveis e protegidos nas plataformas, que devem ser certificadas, garantindo que sejam legais, que haja autenticidade e confidencialidade”, salientou a especialista.
Sobre a Telemedicina, Maria Ângela fez questão de destacar que é indicado haver um termo de autorização e concordância do paciente, para que ele seja informado e demonstre se entendeu todas as informações e explicações.
“Na arte da Medicina, qualquer meio de atendimento escolhido pelo médico deve sempre ser pautado naquele que trará o melhor benefício para o paciente, atendendo as suas necessidades e objetivando a cura quando possível. Já o Direito, por sua vez, deve amparar este indivíduo enfermo, para ter todas as suas garantias constitucionais preservadas, principalmente naquela que é o seu bem maior, a sua saúde”, finalizou.