Saúde Digital é um dos eixos da reorganização do setor, mas tecnologia não pode ser polarizada

Executivos apostam na união dos atores da Saúde pela eficiência de todo o sistema

Discussões impactantes provocaram insights valiosos sobre a interseção entre a Medicina e a tecnologia no Global Summit Telemedicine & Digital Health APM 2023, realizado pela Associação Paulista de Medicina (APM), de 20 a 22 de novembro, em São Paulo.

Representantes de grandes instituições falaram de suas visões sobre a Saúde Digital, compartilharam suas experiências e defenderam a união dos atores do setor pela eficiência de todo o sistema de Saúde.

O presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp), Francisco Balestrin, disse que a construção de um País mais saudável exige mudanças profundas. Neste contexto, as tecnologias digitais se destacam.

“O conceito de Saúde Digital vai muito além das consultas ou diagnósticos remotos, pois engloba monitoramento a distância, internet das coisas, inteligência artificial, sistemas, enfim, um arsenal extenso. O aspecto positivo é que a pandemia de Covid-19 acelerou alguns processos inovadores que podem ajudar o Sistema Único de Saúde (SUS)”, explicou.

Para ele, com a digitalização do setor, é possível melhorar o acesso, a qualidade, a interoperabilidade e a equidade. De forma prática, a ideia é ampliar o conhecimento sobre a Saúde populacional, reduzir o tempo de espera, o custo da assistência, contribuir para a integração público e privado, promover a interação e a cooperação multiprofissional, vencer barreiras geográficas, criar indicadores que auxiliem no planejamento e, na gestão, possibilitar o monitoramento e o acompanhamento de portadores de doenças crônicas, entre outros benefícios.

“O que é preciso é fazer com que a Saúde Digital realmente aconteça em todas as frentes, senão tudo o que foi criado nos últimos anos será perdido”, alertou.

Desafios

Jeane Tsutsui, presidente do Grupo Fleury, contou que dados do Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam mais médicos se formando no Brasil, mas 92% deles estão em 12% do território nacional. Levar profissionais para determinadas localidades é um desafio. Contudo, uma solução foi conectar digitalmente especialistas em alguma capital com médicos em municípios do interior.

“Como temos população coberta pelo SUS, que funciona, mas ainda apresenta gargalos, e que envelhece cada vez mais, temos que ter olhar de prevenção e tecnologia com acesso e controle de doenças crônicas”, afirmou.

A Telemedicina, para a executiva, é uma oportunidade de dar acesso populacional ao médico. Prova da eficiência da modalidade foi durante a pandemia de Covid-19, quando várias empresas passaram a realizá-la e isso foi uma jornada de aprendizado, que tem atraído investimentos.

“Porém, é preciso saber como alocar melhor os recursos, priorizando projetos que tornem a organização mais digital e, consequentemente, mais sustentável. O Grupo Fleury vem passando por essa transformação e já realiza duas mil teleconsultas por dia”, contou.

Uso da inovação

Lilian Hoffmann, diretora-executiva de Tecnologia e Inovação da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, concorda com Jeane e salienta que o olhar para o uso da tecnologia na Saúde não pode ser polarizado, pois não se trata de quem lança o que primeiro, mas sim o foco da utilização dessa inovação.

Ela explica que há uma grande dor no setor que se chama prontuário com dados não estruturados. Ainda hoje, quando se fala que é uma tecnologia para o paciente e para engajá-lo, na verdade, tem sido feito para resguardar as contas das instituições, com as informações do paciente que não chegam a ele.

“A inteligência artificial (IA) generativa tem um papel diferente que é a entrega da  sumarização, ou seja, permite modificação do linguajar para levar a informação ao paciente de forma adequada. A resposta que fica é que a chave da tecnologia está na personalização. Ela veio para ajudar e o atual estágio é o de entender o que é bom”, destacou.

Sobre a ideia de todos os atores do setor atuarem juntos, Lilian ainda fez uma provocação: como isso é possível, quando há muitos interesses em jogo?

“A resposta está na tecnologia, desde que haja interoperabilidade. Também é importante o retorno do investimento para a sustentabilidade do sistema”, ressaltou.

Interoperabilidade

O co-chairman da Dasa, Romeu Domingues, corroborou com a diretora-executiva, dizendo que a interoperabilidade é fundamental para o setor, mas ainda há um caminho árduo para o seu desenvolvimento. Além disso, ressaltou que não adianta ter dados e não os usar para melhorar o atendimento ao paciente.

“Dados estruturados desempenham um papel fundamental na Saúde populacional”, salientou.

Também pontuou que a Saúde Digital é um dos eixos centrais na reorganização do segmento, para aprimorar a gestão de recursos e ampliar o acesso à Saúde de qualidade para toda a população.

Comentou ainda que a Dasa tem investido fortemente em inovação e tecnologia para transformar a Saúde, ampliar o uso inteligente de informações integradas e a interoperabilidade de sistemas.

“Posso citar o caso da Telemedicina, que trouxe um ganho sem precedentes para médicos e pacientes, e tem auxiliado para que mais pessoas tenham possibilidades de cuidado. Isso contribuiu para reinventarmos a forma de desenvolver soluções para os pacientes. É gratificante compartilhar com o setor a mudança cultural que envolveu todo esse processo, reforçando a consolidação da nossa estratégia”, enfatizou.

Transformação digital

Por fim, o presidente da Sociedade Israelita Brasileira Albert Einstein, Sidney Klajner, disse que a transformação digital por si só não representa nada se não for um modelo com envolvimento organizacional, começando pela alta direção.

“A tecnologia é uma ferramenta para entregar um propósito maior. Ela não é fim, é meio”, comentou.

Também disse que quando se fala do uso de tecnologia, isso tem de ser encarado como uma ferramenta para poder atuar cada vez mais com o propósito de entregar vidas saudáveis para cada ser humano.

Neste sentido, defendeu o uso das soluções tecnológicas para que se tenha desfechos melhores, gestão e progresso do acesso da população, prática assistencial monitorada e aprimorada pelos recursos digitais. 

Confira os principais as fotos Global Summit APM 2023 AQUI.

Fotos: Marcos Mesquita Fotografia

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