Sistemas de informação e IoT são ferramentas fundamentais para viabilizar a evolução da Saúde Digital

Para Fabio Mattoso, conferencista do GS APM 2023, as instituições precisam adaptar suas culturas e direcionar os investimentos para que a verdadeira transformação digital ocorra no País

No cenário atual, as tecnologias de informação e comunicação assumem um papel central nas infraestruturas e ferramentas que respaldam a prática médica, a gestão institucional e até mesmo a promoção da Saúde, a educação sanitária, a Saúde pública, a pesquisa biomédica e a formação profissional.

Para Fabio Mattoso, CEO da Tuinda Care, conferencista confirmado na 5ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM – que a Associação Paulista de Medicina (APM) realizará de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo – cada País apresenta uma realidade única sobre a evolução da Saúde Digital, influenciando seus sistemas de Saúde de maneiras diversas e, por vezes, imprevisíveis. Países nos quais se antecipava uma rápida transformação, como os Estados Unidos, ainda enfrentam obstáculos devido à persistência de estruturas organizacionais fragmentadas. Em contraste, destaca-se o exemplo da Estônia, que emergiu como líder em interoperabilidade e transformação digital na Saúde.

“No Brasil, dispomos de um contingente de profissionais altamente qualificados, conferindo-nos uma vantagem competitiva. Entretanto, nossa capacidade de desenvolver soluções ainda depende, em grande medida, de tecnologias globais. Sou otimista quanto ao País, mas reconheço que a ausência de preparo e planejamento adequados poderão retardar nosso progresso”, pondera Mattoso.

A visão de futuro, para o executivo, abrange dimensões demográficas, cuidados humanos, comércio eletrônico na área da Saúde, assistência eletrônica e ecologia social saudável.

“Estou convencido de que os sistemas de informação e a Internet das Coisas (IoT) serão ferramentas fundamentais para viabilizar tais objetivos, tornando-se os alicerces e os canais de acesso a esse futuro almejado”, destaca.

Troca de dados

Após o boom das teleconsultas durante a pandemia de Covid-19, segundo Mattoso, houve uma ligeira retração desse mercado. No entanto, no contexto da Saúde Digital, tornou-se inegável a urgência de novas tecnologias e da troca de dados para o cenário pós-Covid-19. Soluções que antes enfrentavam forte resistência, como a prescrição eletrônica, hoje estão solidamente estabelecidas em diversas regiões do País. O mesmo se aplica às abordagens relacionadas a ensaios clínicos.

Quanto à inteligência artificial (IA), explica o CEO da Tuinda Care, está encontrando seu espaço apropriado, não como um substituto, mas como um complemento.

“Percebo uma evolução constante, porém, as instituições de maneira geral também precisarão adaptar suas culturas e direcionar investimentos para que a verdadeira transformação possa ocorrer no País”, afirma Mattoso.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Saúde Digital abrange a ampla aplicação das tecnologias de informação na área da Saúde, englobando sistemas e ferramentas destinados ao tratamento de pacientes, investigação, formação profissional, vigilância epidemiológica e monitoramento da Saúde pública. O executivo lembra que, atualmente, o acesso a essas tecnologias é facilitado pela proliferação de dispositivos móveis, que auxiliam no diagnóstico e em exames remotos. Entretanto, o verdadeiro desafio reside na gestão dos dados coletados e na utilização que se faz deles.

“A eficácia real só será alcançada por meio de uma gestão integrada, que poderá gerar um impacto significativo no acesso à Saúde pela população. Contudo, é importante considerar que o Brasil enfrenta desafios relacionados à desigual distribuição geodemográfica de recursos médicos”, aponta o executivo, ressaltando que as tecnologias que permitem atendimento remoto, sem dúvida, desempenham um papel fundamental para o contexto brasileiro.

Desafios

Em sua participação no Global Summit APM 2023, Mattoso fará a Conferência Nacional “O Desafio Médico na Interoperabilidade da Saúde Digital”, temática que, para ele, ainda é abordada de maneira superficial.

Por trás desse conceito, segundo o executivo, existem normas, critérios e complexos aspectos regulatórios e legais que precisam ser levados em conta. Além disso, a noção de interoperabilidade não se limita a um único tipo ou enfoque, visto que deve abranger múltiplos domínios dentro do processo clínico, englobando facetas técnicas, sintáticas, semânticas e organizacionais, entre outras.

“A padronização é apresentada como uma abordagem para alcançar tal meta. Porém, a interoperabilidade semântica se demonstra substancialmente mais desafiadora de ser implementada no contexto clínico do que em outros ambientes. Surge, portanto, a proposta de uma mudança estratégica em relação à padronização, com a adoção de um modelo dual que separa a gestão da informação e a administração do conhecimento”, explica Mattoso, que revela que essa discussão não é apenas instigante, mas também provocativa, uma vez que transcende aspectos técnicos e adentra considerações éticas e organizacionais, cujo peso é igualmente significativo.

Estratégia adequada

O CEO da Tuinda Care explica ainda que quando a necessidade da interoperabilidade surgiu, o sistema não estava devidamente preparado para enfrentá-la. Além disso, as organizações de Saúde operam contendo outras entidades em níveis menores, que são englobadas por estruturas maiores, como o sistema de Saúde pública, secretarias de Saúde, hospitais e departamentos, o que dificulta uma padronização.

Cada contexto e nível de complexidade pode requerer uma estratégia de comunicação específica dentro do seu domínio de atuação. Adicionalmente, a representação das informações ainda carece de formalização, já que, historicamente, cada profissional tem registrado as informações conforme sua própria experiência, o que dificulta a partilha efetiva dos dados.

“A codificação é um passo inicial, contudo, por si só não é suficiente. Em face dessa situação, fica claro que uma mudança de estratégia é necessária. Porém, esse movimento não poderá progredir sem uma regulação e legislação adequadas”, defende Mattoso.

Ele conclui dizendo que “debater esta temática, como acontecerá no Global Summit APM 2023, é fundamental para que os obstáculos sejam superados e a interoperabilidade, de fato, contribua para a sustentabilidade do setor da Saúde”.

“O Global Summit APM transcende a simples definição de um evento. Ele assume o papel de uma entidade integradora fundamental no ecossistema da Saúde Digital brasileira. Em minha perspectiva, ele congrega pessoas, empresas e setores da indústria que, deliberadamente, possuem interesses diversos. Como resultado, o evento estimula uma série de diálogos enriquecedores de alto nível, cada um com abordagens únicas. Embora seja inquestionável que o paciente permanece como o epicentro de todas as discussões, o enfoque recai também na abordagem prática de como efetivamente alcançar os objetivos. Este aspecto, a meu ver, tem sido habilmente explorado desde a primeira edição do Global Summit APM”, finaliza.

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