Telemedicina e Telessaúde precisam de controle de qualidade para entregar melhores resultados

Primeiro Warm Up da 5ª edição do Global Summit APM também destacou a importância da capacitação dos profissionais de Saúde no uso de novas tecnologias

Impulsionado pela pandemia de Covid-19, o cuidado prestado nos atendimentos a distância está amadurecendo e possui um alto nível em sua qualidade, que já pode ser equiparado ao atendimento presencial, na opinião do gerente médico do Centro de Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), Carlos Pedrotti. A afirmação foi feita durante o primeiro Warm Up da 5ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, realizado no dia 11 de maio, no auditório da Associação Paulista de Medicina (APM).

Essa nova realidade, segundo Pedrotti, pode ser vista quando se está em centros diferenciados. Porém, quando se expande para o restante da população, para o mundo real, há grandes dificuldades.

“Temos de brigar para ver se a qualidade no atendimento é possível de ser mantida”, lamentou o gerente médico.

Quando se trata dos benefícios trazidos pela Saúde Digital, Pedrotti ressaltou que as novas soluções têm permitido mais facilidade no acesso aos dados do paciente, uma vez que no formato presencial pode não haver o cruzamento das informações, ficando em outros sistemas e sem o diálogo entre os profissionais que participam do cuidado.

Além disso, o especialista destacou que, embora a Telessaúde seja uma facilidade, é fundamental que os médicos priorizem os principais critérios de segurança de seus pacientes, analisando em que momento precisam ser direcionados ao atendimento presencial por estarem diante de situações que podem caracterizar risco à vida.

Respeitar a autonomia do paciente, assim como a do profissional – ainda que este precise de capacitação, já que está começando a se adaptar ao sistema digital –, foi outro ponto importante defendido por Pedrotti.

“Temos que ter critérios para não transformar a Telemedicina e o atendimento a distância em algo frio e sem consistência. É preciso que haja controle na qualidade dos serviços de Telessaúde e Telemedicina, e prestar atenção no que está sendo entregue para fornecer melhores resultados”, afirmou o gerente médico.

Capacitação

Opinião compartilhada pelo presidente do Global Summit APM, o médico neurologista Jefferson Gomes Fernandes. Para ele, a pandemia de Covid-19 permitiu a ascensão da Telemedicina no País. No entanto, agora é o momento para evoluir e disseminar informação, conhecimento e experiência para que a Saúde Digital continue prosperando e tenha um papel de protagonismo.

“A capacitação e a educação são extremamente importantes não só para o médico, mas para todos os profissionais da área. Estamos vivendo momentos de grandes transformações, que já estão influenciando o cuidado do paciente, por isso, é fundamental que o conhecimento possa ser transmitido e a experiência possa ser dividida, desta forma conseguiremos evoluir na maturidade dos serviços de Telemedicina e Telessaúde em nosso país”, ressaltou Fernandes.

Já para Chao Lung Wen, presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms) e professor associado da Universidade de São Paulo (USP), passada a emergência em saúde pública, em que a Telemedicina foi difundida e a teleconsulta se tornou uma realidade, o setor necessita rejuvenescer e se modernizar.

Wen acredita que, até 2030, o atendimento exclusivamente presencial não será mais recomendado e que, neste período, haverá uma mudança tão grande no perfil demográfico que, se não houver uma atualização nos conceitos, o sistema de Saúde entrará em colapso.

“Ou somos capazes de aumentar tecnologias ou a Telemedicina estará fadada à banalização. O sistema precisa rejuvenescer. O futuro já está aqui, apenas não foi uniformemente distribuído. Temos que criar sistemas que gerem uma estruturação múltipla”, explicou o professor, lembrando que a Saúde Digital também é fundamental para evitar desperdícios.

“Telemedicina e Telessaúde são boas para criar linhas de cuidado. Para economizar e reduzir custos, é preciso promover Saúde, manter o paciente saudável e, assim, diminuir de fato os gastos com o tratamento de doenças”, observou Wen.

Interoperabilidade

E se o assunto envolve avanço de tecnologia e troca de informações, é a vez de se falar sobre interoperabilidade, que tem ganhado cada vez mais espaço no âmbito da Saúde, auxiliando no rendimento dos profissionais e no bem-estar dos pacientes.

Antonio Carlos Endrigo, diretor de Tecnologia de Informação (TI) da APM e copresidente do GS, explicou que a interoperabilidade é dividida em quatro níveis: fundamental, estrutural, semântica e organizacional, e que ela facilita não só o esforço de se ter dados interoperáveis, como a qualidade do próprio dado em um único ambiente.

Apesar de o restante do mundo estar vendo um avanço na quantidade de dados operáveis, eles ainda são muito pouco utilizados. No Brasil, por conta da fragmentação dos sistemas de Saúde, tanto público quanto privado, e da distribuição irregular das informações, os dados também são afetados.

“A Saúde, em termos gerais, unifica as informações. O setor público está bem adiantado, embora o conjunto mínimo de dados existentes hoje ainda seja pequeno. Mas, com isso, damos empoderamento ao paciente e ao prestador de serviço, já que facilita muito o desfecho clínico”, esclareceu Endrigo.

Para os gestores, pontua o diretor, a interoperabilidade permite criar produtos, gerir a Saúde populacional e prever riscos, possibilitando maior controle dos custos. Entre os desafios estão o impacto das incorporações tecnológicas, o aumento no custo da Saúde e a mudança que aconteceria no modelo de remuneração.

“Já por parte dos prestadores, eles teriam a oportunidade de ter uma crescente demanda nacional. Lidariam com o constante uso de inovação e seriam remunerados por meio do novo modelo. No entanto, teriam de lidar com o desafio de fidelizar seus pacientes, conhecer novos desfechos clínicos e apresentar uma resolutividade médica abaixo do esperado”, ponderou Endrigo.

Inteligência artificial

Abordando as novas tecnologias no Warm Up, o neurologista e head de Inovação Médica em Hospitais da Dasa, Victor Gadelha, falou sobre inteligência artificial (IA). Explicou que ela é a possibilidade de adaptar o desempenho cognitivo para uma máquina como se fosse o homem, de forma repetitiva e eficiente. Lembrou que essa inovação é uma parte avançada das Ciências da Computação, que surgiu por volta de 1965, na Alemanha.

Desde então, muito se aprendeu sobre o tema. A partir dessa tecnologia, é possível criar algoritmos capazes de dar diagnósticos. Mas não somente isso. Essa ferramenta, de fato, pode servir como um suporte na tomada de decisões, explicou Gadelha, visando ganhar eficiência no tratamento e na identificação de doenças. Além de tantas outras coisas que se pode fazer com a IA, que vem alcançando uma performance impressionante em poucos anos.

A transformação digital e a evolução matemática são fatores que podem explicar a melhora no desenvolvimento que a IA vem tendo, possibilitando a aplicação de técnicas muito mais robustas, embora o setor ainda lide com uma série de desafios.

Entre eles, Gadelha apontou: o tamanho do banco de dados; o balanceamento das classes, pois é preciso equilibrar ao máximo a performance na análise de dados raros; e as múltiplas variáveis, pois quanto mais dados se coloca para treinar um algoritmo, mais difícil é realizar isso, já que os padrões são muito complexos.

“Isso tudo acaba se tornando um grande desafio. É tudo muito novo e a gente está descobrindo os caminhos”, declarou Gadelha.

Acompanhe o site do Global Summit APM e fique por dentro de quando será o próximo Warm Up.

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