Para especialistas internacionais, a inovação ainda vai tornar a área mais eficiente e responsiva às necessidades dos pacientes
Um dos destaques da programação do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, realizado pela Associação Paulista de Medicina (APM), em novembro, foi o painel internacional. O debate reuniu três relevantes players do sistema de Saúde mundial, que compartilharam suas experiências.
O cardiologista alemão, cientista, consultor de negócios internacionais Andreas Keck, sócio do SYTE (Strategy Institute for Digital Health), tratou das terapias digitais (DTx), falando sobre as aplicações de Saúde Digital (DiGA) – mecanismo criado pela Alemanha para validar e testar DTx. O país é o maior mercado de Saúde da Europa, que pode alcançar um volume de US$ 4 bilhões até 2030, e trabalha com o sistema de reembolsos para as terapias digitais.
Tendo como principal impulsionador os gastos com a adoção de tratamento eficazes, o aumento dos custos da Saúde emerge como um dos motivadores desse cenário, assim como a prevalência de doenças crônicas. As iniciativas de Saúde Digital têm se mostrado uma ferramenta valiosa para alcançar esses objetivos e promover o bem-estar em todo o mundo.
O especialista alemão explicou que o momento é propício para a Saúde Digital em todo o mundo, em especial no que diz respeito à adesão à medicação, sendo de extrema importância não só atender às expectativas e melhorar a experiência dos pacientes, como atender às suas necessidades em constante evolução.
“São diversas as peças do quebra-cabeça e existem novas perspectivas de adesão por meio da inovação e da Saúde Digital. Os pacientes estão cada vez mais utilizando tecnologias que os apoiam na gestão de sua Saúde, e como consumidores, esperam serviços mais holísticos, desenvolvidos de acordo com suas necessidades”, contou.
Foco no paciente
Também comentou a mudança de um cuidado centrado no tratamento para o focado no paciente. Ao mesmo tempo, espera-se uma redução da hospitalização e aumento de receitas. Tudo isso em um cenário com novas abordagens tecnológicas, como m-Health (dispositivos móveis) e internet das coisas (IoT), e busca por personalização e incentivo ao tratamento.
Keck acrescentou ainda que, em paralelo, aumentar a adesão e o uso adequado dos medicamentos pode ajudar a reduzir a pressão no setor de Saúde e gerar novas receitas, por meio dos aplicativos de prescrição, por exemplo. Além disso, outras tecnologias, como assistentes digitais e sistemas de suporte à decisão clínica também podem ajudar nesse processo. A inteligência artificial (IA) e o uso de algoritmos para solucionar diferentes desafios e analisar dados de prontuários eletrônicos, com destaque para a necessidade de combinar as percepções da IA com o profundo conhecimento dos profissionais médicos.
Cuidados adequados
Líder da equipe biomédica da Pangea Data, do Reino Unido, Marcin Burda concorda com o especialista alemão e pontuou que as soluções digitais são essenciais para auxiliar os prestadores de cuidados de Saúde a transformar os pacientes não diagnosticados e com diagnósticos errados em seu maior ativo.
“Ao identificar essas pessoas e direcionar os cuidados adequados, evita-se o agravamento da doença e reduz os custos para o sistema de Saúde”, ressaltou.
Comentou que 90% de 7 mil pacientes do Reino Unido não são diagnosticados ou estão em situação de diagnóstico complicado. Da perspectiva dos fornecedores de serviços de Saúde é sabido que tratar pacientes com doenças em estágio avançado é mais caro do que cuidar quando a doença é rapidamente diagnosticada.
“Uma das principais vantagens das soluções tecnológicas é ajudar os médicos a terem insights mais rapidamente, pois sabemos que o tempo desses profissionais é escasso. Hoje, eles chegam às respostas em apenas poucos cliques”, explicou.
Dessa forma, Burda disse que não é exagero falar que as novas tecnologias têm contribuído imensamente para salvar vidas.
“Olhando para o futuro, o uso da tecnologia continuará a desempenhar um papel vital na melhoria do setor da Saúde, tornando-o mais eficiente e mais responsivo às necessidades dos pacientes”, esclareceu.
Rede colaborativa
Por fim, Dale Alverson, professor emérito da Universidade do Novo México (EUA), tratou das oportunidades para colaboração internacional por meio da Telemedicina e da Saúde Digital. Citou que os países desenvolvidos estão usando as tecnologias e outros podem se inspirar.
Uma colaboração global, com a partilha de conhecimentos e experiências, segundo o professor americano, deverá melhorar a utilização eficaz da Saúde Digital, da Telessaúde e da Telemedicina em todo o mundo, a partir da criação de redes internacionais globais de cuidados que possam melhorar a Saúde e a qualidade de vida em todos os países.
“Esse ‘admirável mundo novo’ exigirá a superação das diferenças políticas entre os países e a manutenção do respeito mútuo e da compreensão das perspectivas culturais únicas relacionadas com a Saúde e, ao mesmo tempo, o reconhecimento de que muitos problemas do setor são comuns a todos os países”, destacou.
Entre os passos para desenvolver uma rede colaborativa, elencou: construir um time indisciplinar; compartilhar experiências com base em evidências; coletar dados; e fazer análises, pesquisas e avaliações.
À medida que o mundo continuar o desenvolvimento de uma “rede de redes” internacional de Telessaúde, Alverson acredita que haverá a oportunidade de cooperação, colaboração, partilha de conhecimentos e melhoria da Saúde de todos os indivíduos no mundo, aplicando tecnologias de informação para a paz e a melhoria da humanidade.
“Chegou o momento de um diálogo aberto e construtivo destinado a facilitar a coordenação entre as principais partes interessadas e outras organizações internacionais”, afirmou.
Citou ainda que essas experiências de intercâmbio internacional, melhoradas com a Telessaúde, oferecem oportunidades significativas para a compreensão dos denominadores comuns, bem como das diferenças únicas, relacionadas com a Saúde global entre países e culturas em todo o mundo.
“Esses programas podem promover a compreensão internacional e o respeito mútuo de uma forma que possa melhorar a Saúde de toda a comunidade global”, completou.
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Fotos: Marcos Mesquita Fotografia
