Saúde Digital é importante para melhorar o acesso à assistência e para a evolução e a sustentabilidade do setor

Carlos Pedrotti, novo presidente do Conselho de Administração da SDB, fala dos benefícios e desafios da transformação digital da Saúde

A Saúde Digital Brasil (Associação Brasileira das Empresas de Telessaúde, Telemedicina e dos Desenvolvedores de Tecnologias para a Saúde) elegeu recentemente um novo Conselho de Administração para o triênio 2023-2026. A entidade passou a ser presidida por Carlos Pedrotti, gerente médico do Centro de Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein.

Membro da Comissão Cientifica da 5ª edição Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, que a Associação Paulista de Medicina (APM) realizará de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, Pedrotti destaca a importância da Saúde Digital e da Telemedicina no acesso à assistência à população, na melhoria da qualidade dos serviços e até para a evolução e a sustentabilidade do setor.

“A Saúde hoje é muito fragmentada no que está relacionado ao controle dos dados. Isso leva ao desperdício, à dificuldade de compreender a continuidade da jornada do paciente. A Saúde Digital é uma das soluções para isso, porque é um serviço nativo digital e para disponibilizar o dado hoje é absolutamente fundamental que ele esteja digitalizado”, afirma.

Na entrevista a seguir, Pedrotti fala sobre as conquistas, benefícios, desafios e para onde caminha a Saúde Digital e a Telemedicina no País. Confira!

Você acaba de ser eleito presidente do Conselho de Administração da Saúde Digital Brasil (SDB) para o triênio 2023-2026. Quais são as metas e objetivos para esta nova gestão?

A Saúde Digital Brasil é uma entidade nova. Fundada em 2020, reúne os principais participantes do ecossistema da Saúde Digital no País, que são provedores de serviços, de tecnologia, com um volume gigantesco de interações com os pacientes. São milhões de consultas realizadas anualmente por esses associados, mostrando a grande relevância no mercado nacional e na América Latina. Eu participo das atividades da SDB desde a fundação, como coordenador do Grupo de Trabalho de Protocolos Clínicos, e tenho um carinho enorme pelos que me antecederam, Eduardo Cordioli, que foi o primeiro presidente da instituição, e Caio Soares, nos últimos anos.

Nestes três anos, a SDB teve um grande feito. A entidade foi fundada com o intuito de promover a regulação adequada do setor, que era extremamente confusa durante a pandemia de Covid-19. Tivemos uma legislação que permitiu a prática da Telemedicina e da Telessaúde de maneira provisória. De forma ampla, ao longo deste período, foi se formando um consenso sobre qual seria a regulação adequada e, por fim, foi sancionada a lei nº 14.510, em 27 de dezembro de 2022, que regulamentou a prática dessas modalidades e foi a consolidação desse trabalho que envolveu muitas pessoas, em todas as esferas de governo, parcerias e discussões com conselhos profissionais e participantes de outros setores – para definir o texto que, ao nosso ver, atende perfeitamente à sociedade brasileira, dando autonomia ao paciente, ao médico e ao provedor para a realização da Saúde Digital, com todo o seu potencial, garantindo a segurança da informação e as prerrogativas básicas de boas práticas.

Essa foi considerada a maior ação da SDB. Ao longo desse processo, nós coordenamos também o nosso Manual de Boas Práticas em Telemedicina e Telessaúde, o primeiro no País, e temos muito orgulho, pois foi feito em muitas mãos. Vimos que a publicação é importante para qualquer um que queira crescer ou contratar serviços de Telessaúde, até mesmo para a população. Está disponibilizado de forma gratuita em nosso site.

Porém, os desafios não acabaram e temos como meta para o próximo triênio continuar acompanhando o processo regulatório da Saúde Digital, pois há vários itens que estão em discussão bastante acalorada. Entre eles, o papel da inteligência artificial (IA) e a regulação do prontuário eletrônico e da dispensação de medicamentos que, no País, ainda é muito analógica. Estamos trabalhando com as agências reguladoras para o desenvolvimento dessa regulamentação, para que toda a sociedade se beneficie e o setor mantenha sua sustentabilidade operacional e econômica, de forma ética e adequada ao paciente.

Neste segundo semestre, estamos trabalhando no nosso Painel de Indicadores, com todas as informações setoriais, porque temos carência de dados. Queremos realmente fazer o mapeamento de como estão a Telessaúde e a Telemedicina. Isso é muito importante para o sistema de Saúde do País. Vamos ter muita coisa para mostrar para a sociedade sobre como foi o desenvolvimento dessas modalidades ao longo dos últimos três anos, considerando as diferenças regionais, os meios de prestação de serviços de Saúde Digital, as especialidades e os profissionais envolvidos. Será uma quantidade enorme de dados disponibilizados à população. A partir deles, inclusive, será possível desenvolver políticas públicas para o setor. Além disso, também estamos atuando com educação continuada em Saúde Digital.


Qual a sua visão do atual cenário da Saúde Digital e da Telemedicina no Brasil e no mundo?

A Saúde Digital teve um avanço com a pandemia de Covid-19, obviamente, em decorrência da liberação regulatória e também pela necessidade da população, com o isolamento social, de atendimento médico a distância. É comum a gente dizer que foi uma evolução de 20 anos em dois, entre 2020 e 2022. Agora, em 2023, com o controle da pandemia e a regulação aprovada no fim do ano passado, está se vendo realmente um crescimento mais orgânico e não influenciado por um evento. Está havendo uma desaceleração de serviços e de situações agudas para uma aceleração de desenvolvimento de Saúde preventiva e crônica, como o caso de serviços de atenção primária, de especialidades e Saúde Mental, extremamente relevante. Também há a prática do Telemonitoramento, que deixa as equipes mais próximas do paciente e ele mais no controle da sua saúde. Isso é benéfico em termos de sinistro, do controle de resultados. Há um oceano azul de oportunidades na Saúde Digital porque, apesar do crescimento explosivo que vimos com a pandemia, ainda há diversos setores que estão subutilizando a modalidade, que têm muito a crescer e ter esse potencial explorado.

Passado o crescimento exponencial ao longo da pandemia, para onde caminham a Telemedicina e a Saúde Digital no Brasil? 

Nós vemos que existe uma heterogeneidade muito grande na distribuição de profissionais de Saúde no País, e a Telemedicina tem ocupado esse campo, oferecendo um acesso facilitado, especialmente às populações que vivem em áreas mais remotas e menos favorecidas. Ela é um instrumento de acesso, de melhoria da qualidade da assistência e da distribuição dos serviços de Saúde, que outrora precisariam de um profissional se deslocando para essas áreas mais remotas. Isso traz um efeito benéfico logístico, que damos o nome de Telemedicina Logística, quando se leva atenção em Saúde para um local que tem dificuldade de acesso. Durante a pandemia de Covid-19, vimos isso acontecer muito nos sistemas de Saúde privado e suplementar. Mas, agora, temos o conhecimento de inúmeras iniciativas no sistema de Saúde público, com diversas prefeituras, estados e secretarias incentivando o desenvolvimento de serviços de Saúde Digital, com grande sucesso, economia de recursos e melhor acesso da população aos serviços.


Quais são os desafios a serem superados para que essas práticas alcancem seus objetivos no País?

A Saúde hoje é muito fragmentada no que está relacionado ao controle dos dados. Um dos grandes desafios que vamos enfrentar e que está sendo discutido é a interoperabilidade dos dados, exatamente porque hoje cada serviço é fragmentado. O paciente faz uma consulta com um médico, com outro, é submetido a uma internação e nenhuma das três bases de dados desses atendimentos se conversam adequadamente. Isso leva a muito desperdício e a uma dificuldade de compreender a continuidade da jornada do paciente. A Saúde Digital, na realidade, é uma das soluções para isso, porque é um serviço nativo digital e para você disponibilizar o dado hoje é absolutamente fundamental que ele esteja digitalizado.

Outro grande desafio é segurança da informação. A gente sabe que ainda acontecem situações de vazamento de dados que, na Saúde, são extremamente sensíveis. Isso tem sido um dos grandes limitadores de se evoluir, de se ter o compartilhamento dessas informações. Desenvolver métodos que garantam o compartilhamento de dados de forma segura é um dos itens fundamentais para o desenvolvimento da interoperabilidade e de uma maior divulgação dos potenciais da Saúde Digital, inclusive até para os sistemas de pagamento, que estão mudando para uma remuneração por valor, por resultados e não mais por procedimentos (fee for service).

Também sabemos que para resolver o problema da Medicina baseada em valor, notadamente os mecanismos de monitoramento de doenças crônicas e de procedimentos invasivos, cirurgias e internações, a interoperabilidade de dados, o controle da jornada do paciente e utilizar instrumentos da Saúde Digital são fundamentais.

E a conectividade ainda é um problema para a evolução da Saúde Digital no Brasil?

Já foi um problema muito maior. Vou te dar um exemplo. Na instituição que atuo (Hospital Israelita Albert Einstein), implementamos mais de 300 pontos de Telemedicina em áreas remotas da Região Amazônica, e o maior desafio não tem sido a conectividade. Hoje, temos satélites de baixa altitude, com uma precificação muito mais convidativa do que era no passado, com latência e banda adequadas. Temos uma distribuição de fibra óptica mais completa no País. Eu gosto de dizer que uma das grandes vantagens do 5G foi a melhoria do 4G. A nova frequência ainda está limitada às grandes metrópoles do País. O 5G não é a solução da Saúde Digital, é mais um instrumento de conectividade e que traz valor para o ecossistema. Mas, não é um ponto de inflexão do desenvolvimento. Com uma boa conexão 4G, é possível fazer praticamente quase tudo que se precisa na Saúde Digital. Não estamos falando ainda de coisas mais futurísticas, de cirurgia a distância, daí é preciso implementar processos bem definidos.

Eu gosto de dizer que tecnologia não é o limitador hoje no País, e nem a conectividade, ou o equipamento. O que é preciso são processos bem definidos, que coloquem o profissional de Saúde e o paciente em contato, utilizando tecnologias de informação e comunicação.

A SDB recentemente fechou parceria para a 5ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health, tornando-o o principal evento para a entidade. Qual a importância desta parceria? 

O Global Summit Telemedicine & Digital Health APM tem sido um dos principais eventos de Saúde Digital no País. Há alguns anos, ele demonstra os impactos da implementação dos programas e serviços de Telessaúde no Brasil. Tem congregado referências e trazido informações relevantes desse setor para o público em geral, sendo uma grande fonte de informações. Por isso, para nós, da SDB, é uma grande honra participar, colaborar com o desenvolvimento do Global Summit APM. Teremos um painel em que vamos ter a oportunidade de apresentar os nossos indicadores às pessoas que estão com a mão na massa, mostrando os desafios, tanto regulatórios quanto sobre a prática da Telessaúde no dia a dia.  

Leia também: Global Summit APM 2023 fecha parceria com a Saúde Digital Brasil

Como presidente da Saúde Digital Brasil, qual sua avaliação quanto à importância do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM para o ecossistema da Saúde Digital? 

Toda discussão que envolve novas tecnologias, novos métodos de se praticar Medicina, de oferecer Saúde, acaba tendo um enorme impacto no setor. O Global Summit APM foi o pioneiro em trazer esses temas para o debate e ele conseguiu congregar, em um momento que as empresas estavam desenvolvendo os seus serviços em Saúde Digital e ainda havia muito para ser discutido no País, pessoas, empresas e provedores que fazem parte desse ecossistema em uma discussão extremamente frutífera para o setor. A nossa expectativa é que isso permaneça, que o evento seja um grande incentivador do debate, de discussões que favoreçam a evolução da Saúde Digital no País.

Quanto é relevante para o mercado a participação das empresas associadas à SDB no evento?

Fica aqui um convite para todos os associados da SDB, que podem aproveitar essa parceria com o Global Summit APM para adquirir conhecimento. Convidamos todos a participarem, se envolverem, comparecerem e prestigiarem esse evento, que é muito importante para o ecossistema da Saúde Digital.

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